Correio da Cidadania

Funcionários do Emílio Ribas denunciam processo de privatização

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Manifestantes dizem que, após convênio firmado com fundação, atendimento piorou, faltam medicamentos e não há mais concurso público.

 

Os funcionários do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e ativistas do Fórum Popular de Saúde realizaram na manhã desta terça-feira (7) um protesto contra o que consideram uma tentativa de privatização da unidade. Os manifestantes concentraram-se em frente ao hospital por volta das 9h e fecharam uma das pistas da Av. Dr. Arnaldo. Eles denunciaram o sucateamento do hospital e pediram o fim do convênio firmado com a FFM (Fundação Faculdade de Medicina), em 2009.

 

Segundo os funcionários, o convênio permitiu a contratação por meio de processos seletivos da FFM e não mais por meio de concursos públicos. Uma das principais queixas dos funcionários concursados do hospital é a diferenciação entre eles e os contratados pela fundação.

 

“Chegaram funcionários ganhando até três vezes mais que os concursados. Eles chegaram em cargos de comando. Para eles, só o serviço deles tem qualidade, o que os concursados fazem não tem valor”, disse a funcionária Nilda Peres, que trabalha no setor de anatomia patológica do instituto, há mais de 17 anos. “Faltam medicamentos, equipamentos de enfermagem, elevadores estão defeituosos. Eu penso que esse dinheiro destinado à FFM deveria ser empregado diretamente em melhorias no hospital”, completou.

 

Um dos temores de funcionários do hospital é que o mesmo fique sujeito às mesmas normas aplicadas no Hospital das Clínicas, onde 25% dos leitos são destinados aos pacientes que possuem convênios particulares, a chamada ‘dupla porta’. “Nossa luta é pela saúde pública, pela defesa de um SUS 100% público”, frisou Nilda.

 

Segundo o representante do Fórum Popular da Saúde, Heitor Martins, já houve uma tentativa anterior, por parte do governo estadual, de privatizar o Emílio Ribas. “Teve uma ameaça de privatização no ano passado, mas lutamos e isso caiu. Era uma ameaça de autarquização do hospital. O governo abriu mão, só que este ano a FFM, que é uma organização social, uma empresa que privatiza a saúde em São Paulo, começou a crescer aqui dentro (do hospital Emílio Ribas)”, afirmou. Martins destacou que uma série de setores está prestes a ser administrados pela fundação privada e denunciou a prática de assédio moral com os funcionários públicos. “O que percebemos nos bastidores do Emílio Ribas é que a ideia não é mais a autarquização, e sim passar toda a administração para a FFM. O que, na verdade, é só uma outra forma de privatizar o mesmo instituto”, explicou.

 

Sucateamento do atendimento

 

Funcionários e usuários do hospital ainda denunciaram o sucateamento do serviço prestado à população. “A Secretaria do Estado de Saúde firmou um convênio para que a FFM gerencie o Emílio Ribas por cinco anos, mas estamos sentindo uma piora do gerenciamento depois do convênio. Falta investimento, e nós não conseguimos saber para onde está indo o dinheiro”, afirmou Rosymeire Silva, funcionária e delegada sindical do Emílio Ribas.

 

“O usuário infelizmente está morrendo na fila”, dispara Rosymeire. “O usuário é o maior prejudicado. É o que espera mais e não pode esperar. É aquele que procura um remédio e não encontra. Com saúde não se brinca, não se vende, não se compra, não se produz. Saúde se atende. E isso não é o que o governo do Estado está pensando hoje em dia”, disse.

 

O soropositivo e paciente do Emílio Ribas Ary (que preferiu não se identificar) comentou sobre a falta de prioridade nos investimentos. “Gastam dinheiro para fazer uma portaria blindada que nem banco tem, com esse dinheiro você paga mais médicos. Nós precisamos de médicos e não de portaria blindada”, afirmou.

 

Falta de medicamentos

 

Durante a entrevista concedida ao SPressoSP, Rosymeire Silva apresentou uma lista de medicamentos que os pacientes do Emílio Ribas não encontrariam no instituto no dia do protesto. Os medicamentos são utilizados por portadores do vírus HIV, principalmente na redução dos efeitos colaterais ocasionados pelo coquetel anti-hiv. São eles:

 

  • Divelol
  • Dipirona gotas
  • Omeprazol
  • Diazepan – 10mg e 5 mg
  • Cronazepan gotas
  • Shiilex
  • Complexo B
  • Instanina creme
  • Vitamina C
  • Interferol 100
  • Tianina
  • Dimeticona comprimidos
  • Eritropoetina
  • Atenolol
  • Solução anti-micótica

 

Outro lado

 

A assessoria de comunicação do Instituto de Infectologia Emílio Ribas negou que todos os medicamentos apresentados na lista estão em falta, exceto a Instanina Creme, devido ao atraso da empresa fornecedora, que já foi solicitada. Afirmou ainda que pode ter ocorrido “um erro de interpretação pela funcionária, uma vez que o hospital disponibiliza os medicamentos identificados pelo nome do seu princípio ativo, e não pelo nome comercial”.

 

Quanto ao convênio com a FFM, a assessoria de comunicação afirmou que ele foi firmado pela Secretaria Estadual de Saúde para “facilitar a contratação de profissionais e para facilitar a organização do fluxo de pacientes”. Segundo a assessoria do instituto, a secretaria repassa verbas para a FFM para que ela cuide destas duas questões. Sobre a diferença salarial entre funcionários concursados e aqueles contratados pela FFM, a assessoria afirmou que está em trâmite um plano de cargos e carreira para os funcionários concursados.

 

Por Felipe Rousselet, SpressoSP.

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