Energia Nuclear: no Ceará, Jornada coloca em discussão os riscos que representam esses investimentos
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- 09/08/2012
Para além do discurso desenvolvimentista apresentado por empreendedores da indústria nuclear no Brasil, ainda há várias questões que precisam ser discutidas sobre esses tipos de investimentos e o que eles realmente trazem para as populações. Esse é um dos motivos que levou organizações a realizarem nos próximos dias 11, 12, 13 e 14 de agosto a I Jornada Antinuclear do Ceará "O presente que temos em Caetité – BA e o futuro que queremos em Santa Quitéria – CE”, que vai acontecer em municípios cearenses que serão possivelmente atingidos com a implantação do Projeto Santa Quitéria, das Indústrias Nucleares do Brasil, previsto para ser efetivado em 2015.
O evento contará com a participação de representantes de movimentos e das próprias comunidades de Caetité, na Bahia, onde há mais de 12 anos as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) exploram urânio. Com o próximo projeto previsto para ser implantado na mina Itataia, entre os municípios cearenses de Santa Quitéria, Itatira e Madalena, a organização do evento achou uma oportunidade de as comunidades cearenses conhecerem mais sobre a realidade de outras comunidades que já vêm sendo afetadas há muito tempo.
Para a professora da Universidade Federal do Ceará, Ana Cláudia de Araújo Teixeira, que faz parte do Núcleo Trama (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade), vinculado ao Departamento de Medicina, o que se tem observado em relação ao projeto cearense é que não se tem informações claras sobre riscos à saúde e ao meio ambiente.
Em levantamento apresentado pelo consórcio INB/Empresa Galvani apenas três comunidades estariam no entorno da planta física, mas um mapeamento feito pelas organizações e entidades que formam a Articulação Antinuclear do Ceará mostrou que mais de 40 comunidades serão afetadas.
"Existe muita expectativa por conta do discurso do desenvolvimento, que fala em mais investimento para o estado, em geração de emprego e renda. Mas não se fala das possibilidades dos danos à saúde que podem ocorrer. Em Caetité já existem evidências desses danos”, falou a professora Ana Cláudia.
Segundo ela, vai ser muito proveitosa a participação dos convidados baianos, pois eles poderão falar claramente sobre a realidade em que vivem. Ana Claudia acrescentou que muitos deles falarão, por exemplo, sobre as condições de trabalho, um dos principais atrativos colocados pelos investidores. Sabe-se que em Caetité as condições são precárias. No ano passado, o Ministério do Trabalho chegou a interditar a unidade baiana por infrações na segurança dos empregados.
"É preciso avaliar bem esse discurso de geração de emprego e renda. O desenvolvimento é para que e para quem? Que condições laborais serão oferecidas para as pessoas das comunidades? Em geral, elas são empregadas em funções que exigem esforço físico, em setores que não exigem qualificação. Já os empregos, digamos, ‘melhores’ vão para as pessoas de fora”, disse a professora.
Outra dificuldade enfrentada pelos moradores baianos é na hora de produzir e comercializar seus produtos. "Eles têm dificuldade porque os compradores pensam que os produtos estão contaminados”, acrescentou.
A Jornada
A Jornada pretende reunir representantes das comunidades de Itatira, Santa Quitéria e Madalena para que possam trocar experiências e conhecer mais sobre o projeto nuclear e suas implicações. Assim, os encontros acontecerão nas comunidades dos respectivos municípios.
No dia 14, em Fortaleza, capital, será realizado o seminário de lançamento do Relatório da Missão Caetité: Violações de Direitos Humanos no Ciclo Nuclear, da plataforma Dhesca (Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais).
Fonte: Adital.