Correio da Cidadania

Considerações do ex-editor da revista Caros Amigos, a respeito da demissão de toda a redação

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Prezados (as),

Saudações.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE O EPISÓDIO CAROS AMIGOS:

1 - Considero importante debater a demissão sumária de uma equipe que se dedicou política e profissionalmente na sustentação editorial de uma revista relevante para a sociedade brasileira, nos últimos quatro anos; uma equipe que atuou o tempo todo em diálogo democrático com o dono da editora, no trato das questões trabalhistas, salariais e editoriais; uma equipe que enfrentou inúmeras dificuldades – inclusive com salário em atraso até dois meses – para manter de pé a revista Caras Amigos; uma equipe de passou a produzir edições especiais e encartes para aumentar a receita financeira da editora; uma equipe que resistiu ao corte da própria equipe para impedir a queda de qualidade do conteúdo da revista a ser entregue aos leitores; uma equipe que recorreu ao direito de greve como último recurso para impedir a precarização do trabalho e o rebaixamento editorial.

2 – A demissão sumária dessa equipe, por ter recorrido ao direito de greve, revelou a violência unilateral do dono da editora, que se negou a dialogar e a negociar com a equipe de redação; essa violência chocou todos aqueles que nutriam alguma simpatia pela revista Caros Amigos, conheciam a atuação dedicada da equipe de jornalistas e que consideravam a revista não apenas uma referência editorial no campo da esquerda, mas também uma referência de funcionamento democrático de uma redação – na qual o ambiente solidário, marcado pelo debate livre e sem censura, vinha se contrapondo aos ambientes controlados e reprimidos das redações da imprensa de mercado.

3 – O episódio da Caros Amigos inquietou setores da esquerda por vários motivos, entre os quais os seguintes: chamou a atenção para a situação de precarização das condições de trabalho e salarial praticada em vários veículos e muitas vezes silenciada por todos; colocou na ordem no dia a questão da propriedade privada dos meios de comunicação social, onde o mando do dono, mesmo adormecido, pode assumir a qualquer momento a forma totalitária e brutal, sem resquícios civilizatórios; recolocou também na agenda do debate o instrumento de greve, um direito constitucional dos trabalhadores, mas que tem sido deliberadamente escamoteado pelos sindicatos e correntes políticas dedicados à conciliação das classes.

4 – O episódio da Caros Amigos criou uma situação de desconforto – para muita gente que se diz progressista e/ou de esquerda – porque a radicalização das partes (capital versus trabalho; patrão versus empregado) exigiu um posicionamento mais cristalino do que nas situações em que a contradição principal não vem à tona; tanto é que vários comentários sobre o caso trataram de evitar a opção clara por um ou outro lado, mas, ao contrário, devanearam para os mais esdrúxulos malabarismos, desde propor a confraternização universal, apontar os trabalhadores pela violência da greve (Não quiseram aceitar pacificamente a escravidão!) até responsabilizar a presidente Dilma por não colocar anúncios do governo nas publicações da esquerda; uma boa parte, convenientemente, amenizou a violência patronal.

Acho que a equipe demitida da Caros Amigos está agora cumprindo um papel tão relevante quanto o de fazer a revista: provocar o debate na sociedade, especialmente entre as pessoas que acreditam na construção de outro mundo. Essa é a nossa sina.

A luta continua.

Abraços.

Hamilton Octavio de Souza

14-03-2013

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