Correio da Cidadania

Conhecida por filme que rodou o mundo, liderança guarani é assassinada no MS

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A morte de Ambrósio Kaiowá


Ambrósio Vilhalva, liderança Guarani Kaiowá do acampamento Guyraroká, morreu. Foi assassinado a facadas às oito e meia da noite do domingo, 1, em sua própria aldeia, a caminho de casa. Sua morte é triste e complexa. Propomos aqui três apontamentos para refletir e tentar compreender a morte de Ambrósio - e seus últimos anos de vida.alt


O primeiro está relacionado a terra. Guyraroká é um território retomado pelos Kaiowá. Em 1990, um grupo de 30 famílias que viviam confinadas na reserva Tey'kue, em Caarapó, conseguiu ocupar 60 hectares de uma das fazendas. Dali foram expulsos e permaneceram por quatro anos na beira da estrada, até que conseguiram voltar para a área.


Estudos antropológicos confirmaram a tradicionalidade do Guyraroká: 12 mil hectares foram identificados como terras originariamente ocupadas por aquelas famílias. Em 2009, o Ministério da Justiça publicou uma portaria declaratória, reconhecendo a área como efetivamente indígena.


O segundo apontamento está relacionado aos impactos do processo histórico imposto aos Guarani Kaiowá de perda de território e do confinamento nas reservas. Estas experiências foram traumáticas, transformaram abruptamente seus modos de viver a vida. Diminuíram e alteraram profundamente a qualidade e o sentido da vida destas pessoas.


Nesse contexto, bem como o suicídio, o uso compulsivo de bebidas alcoólicas proliferou com bastante força, atingindo centenas de Kaiowá desde então. Para suportar as tentativas de disciplinamento por parte do Estado e do capital, embriagar-se ou se matar forjaram-se como saídas. E Ambrósio bebia muito.


O terceiro apontamento tenta dar cabo do elemento mais trágico e grotesco da história: Ambrósio, segundo informações preliminares, teria sido assassinado por indígenas – e não por pistoleiros. No último período, a liderança vinha sendo alertada pela comunidade sobre os problemas que o uso compulsivo de bebidas alcoólicas trazia. Ambrósio vinha se tornando cada vez mais hostil com os indígenas da aldeia.


As memórias dão conta de que antes ele não era assim. Ambrósio era um bom yvyra'ja (aprendiz e auxiliar) do pai, seu Papito, tekoa’ruvixa (ou ñanderu, o rezador tradicional Kaiowá) da comunidade. Em 2008, Ambrósio foi um dos protagonistas do longa de ficção Terra Vermelha, co-produção italiana e brasileira sobre a tragédia Kaiowá. Bastante elogiado, o filme teve cinco nominações (entre elas, para o Festival de Veneza) e duas premiações. Ambrósio viajou bastante em função das agendas extensas de divulgação do filme (busque "Ambrósio Vilhalva" no Google para ter uma ideia).


Depois da exposição e da circulação do Kaiowá em festivais, espaços políticos e outras esferas, em diversos países, ele teria ficado assim, avesso, conforme indígenas que conviveram com Vilhalva. Sob severas privações em seu tekoha diminuto, a circulação de Ambrósio pelas extensas arenas por onde Terra Vermelha o levou teria acentuado as dissociações causadas pela invasão das terras Guarani Kaiowá, alçando Vilhalva a uma imagem difusa de si próprio.

 

Outros atores do filme também têm sofrido problemas semelhantes. Os produtores de Terra Vermelha possivelmente desconhecem esse fato, e muito menos anteviram os efeitos que a velocidade estonteante com que Ambrósio foi solapado provisoriamente de seu universo social causariam.


Expor grosseiramente os fatos relacionados à morte de Ambrósio apenas fragiliza a imagem dos indígenas e reforça os estereótipos que a hegemonia da elite agrária sul-mato-grossense insiste em vincular aos povos Guarani, com o intuito de reduzir as razões e a justeza que os levam a reivindicar seus territórios tradicionais. É preciso ser mais complexo e justo com a história, porque é exatamente o contrário disso.

 

Matéria de Ruy Sposati, de Campo Grande (MS), para o Conselho Indigenista Missionário.

Nota da Aty Guasu – Assembleia do Povo Guarani

 

 

É com profundo pesar que a Aty Guasu informa que a liderança Guarani e Kaiowa Ambrósio Vilhalva, 52 anos, foi assassinada pelo desconhecido, no tekoha Guyraroka-Caarapó-MS. Ambrosio Vilhalva é uma das lideranças da Aty Guasu que sofre constantemente ameaça de morte dos fazendeiros do Cone Sul de Mato Grosso do Sul. O líder Ambrosio é um líder justiceiro, íntegro, humilde humorista indígena Kaiowá e sorridente, defensor de direitos humanos, boa liderança e é conhecido internacionalmente como filósofo e intelectual nativo.

 

Ele passou a vida inteira lutando pela justiça e pela regularização e devolução de pedaço de terras indígenas Guarani e Kaiowá. Ambrósio viajou pelo mundo inteiro socializando as situações de miséria do povo Guarani e Kaiowá. Fez o papel de Nádio no filme Terra Vermelha.

 

A liderança Ambrosio era da Terra Indígena Guyraroka, em conflito pela disputa da posse da terra com o deputado estadual Zé Teixeira e com a empresa da usina de álcool Raízes, que produz e compra a matéria prima cana de açúcar da Terra Indígena Guyraroka. Ambrosio reivindica a terra indígena ocupada pelo deputado estadual Zé Teixiera, um deputado anti-indígena que arrendou a terra indígena para a Usina de Alcool.

 

Sobre a Terra Indígena Guyra Roka, há plantação de cana de açúcar. A liderança Ambrosio Vilhalva lutou mais de 30 anos pela recuperação da Terra Indígena Guyraroka. Essa Terra Indígena Guyraroka já foi reconhecida pelo Governo Federal e declarada pelo Ministro da Justiça, no dia 07/10/2009, portaria nº 3.219/MJ, com a extensão de 11.440 hectares, mas a comunidade está encurralada na pequena área com a extensão de 30 hectares onde estão residindo mais de 30 famílias, totalizam 150 indígenas.

 

O líder Ambrósio no último ano passou reiteradamente a denunciar a plantação de cana de açúcar sobre a Terra Indígena Guyraroka, exigiu a posse da terra indígena, por isso estava recebendo a ameaça de morte, além disso, Ambrósio Vilhalva sempre denunciou a ameaça dos pistoleiros do fazendeiro e deputado estadual Zé Teixeira. No último mês, líder Ambrósio estava preocupado com a segurança dele e da comunidade de Guyraroka.

 

Na assembleia geral ele disse: “Os pistoleiros do deputado Zé Teixeira e da usina de álcool estão me ameaçando e me perseguindo lá na tekoha Guyraroka, eles estão querendo me matar”, “quero avisar a todos”. É evidente que o líder Ambrósio Vilhalva estava sofrendo ameaça de morte, por essa razão pedimos às autoridades federais para realizar uma investigação séria do assassinato do líder Ambrósio Vilhalva.

 

Tekoha Guyra roka, 2 de novembro de 2013


Aty Guasu luta contra o genocídio

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