Fortuna de PCC é pouco perto de Perrela
- Detalhes
- 05/02/2014
Pesquisadora comparou a fortuna encontrada em 500 contas bancárias com os R$ 50 milhões em pasta-base de cocaína encontrados no helicóptero do deputado Perrela.
Investigações do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD) localizaram R$ 200 milhões em 500 contas bancárias de laranjas do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, as contas eram movimentadas por presos de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, por meio de parentes e cúmplices. De acordo com o Último Segundo, os bens foram bloqueados para as investigações.
“Esse dinheiro vem da principal atividade econômica que é o tráfico de drogas, mas não é só essa atividade”, explicou Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autora do livro PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência (Editora Saraiva). Segundo estudos do LAB-LD, o dinheiro era lavado no mercado financeiro, em imóveis, transporte clandestino, comércio e outras atividades realizadas por terceiros.
“Claro que 200 milhões de reais é um valor altíssimo, mas falta uma análise real. Sabe-se que o tráfico de drogas gera uma circulação de valores gigantescos. Para ter uma base de comparação, aquele helicóptero que foi apreendido com 450 quilos de pasta-base de cocaína tinha uma carga avaliada em R$ 50 milhões”, comparou Camila, citando o caso do deputado Gustavo Perrela. “Ou seja, em uma viagem só, o helicóptero transportava um valor tão alto assim; em comparação a essa fortuna do PCC de vários anos, não é tanta coisa assim”.
Para a professora, as investigações devem levantar o período de movimentação do dinheiro. Com isso, poderia ficar mais clara a relevância da fortuna acumulada. Ademais, o valor de R$ 200 milhões é apenas uma aproximação. “Os valores em circulação que são movimentados relacionados à economia ilícita são apenas especulações”, afirma.
Sobre o risco de falhas nas investigações, Camila analisa: “É óbvio que há risco de que as contas bancárias não tenham relação com o PCC. Mas, nos anos 2000 havia uma concentração do dinheiro em contas de algumas pessoas, agora a estratégia é pulverizar em valores menores em diferentes contas para não chamar a atenção. É claro, isso é muito mais difícil de rastrear”. A pesquisadora ainda apontou outra estratégia de camuflar o dinheiro. “Agora foi descoberta a estratégia de esconder dinheiro em escavações de terra. Na gíria do PCC, eles chamam de ‘mineral’ os locais onde escondem dinheiro, armas e outros objetos de valor”.
Estrutura
Camila conta que o PCC possui uma estrutura descentralizada. “Não tem hoje a figura do tesoureiro, como já houve. Essa estrutura é descentralizada de forma regional. Você tem o responsável pelo ‘progresso’, que é a movimentação financeira, mas tem o do interior de São Paulo, do Mato Grosso do Sul, da Grande São Paulo”, comenta.
A professora também destacou que a estrutura é muito flexível. “Por exemplo, o responsável da zona leste vai preso, então o da zona sul assume a responsabilidade.” Ela afirma que a organização possui uma cúpula com poucas pessoas, mas que elas não lidam diretamente com o dinheiro.
“No aspecto do tráfico de drogas, o PCC funciona como uma empresa, mas não é só isso”, relata Camila. “Existem dois PCCs, o que funciona como empresa, que lava dinheiro, vai no Paraguai buscar drogas, investe, e existe o PCC facção, que tem essa ideologia da união da população carcerária, do crime contra a opressão do Estado, contra a polícia, contra a administração prisional, que faz a mediação de conflitos nas prisões e na periferia para evitar a violência até certo ponto.
Embora haja esse aspecto importante do comércio ilícito, a organização tem outro lado”, conclui.
Por Isadora Otoni, SpressoSP.