Correio da Cidadania

MPL: Nota de repúdio à violência da PMERJ e à tentativa de criminalização dos movimentos sociais

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O Movimento Passe Livre da cidade do Rio de Janeiro (MPL-Rio) vem a público se manifestar contra a violência perpetrada pela PMERJ no ato da última quinta-feira (06) e que terminou com o saldo de 28 presos, dezenas de feridos e 1 morte. Sim, houve uma morte na última manifestação, prontamente abafada pela mídia corporativa ao dar único enfoque ao caso do jornalista da Bandeirantes atingido na manifestação (com a morte confirmada, após redação desta nota).

 

Desde dezembro de 2013, ocorrem atos no Rio de Janeiro contra o aumento das passagens e em todos estas manifestações, apesar de em um momento ou outro a PMERJ objetivar causar algum entrevero, no geral se mantiveram alheios às movimentações dos manifestantes e tudo correu bem.

 

Na última manifestação, após a tranquila passeata pela Avenida Pres. Vargas, chegando à Central do Brasil, a PMERJ resolveu que não seria mais um mera coadjuvante no ato e colocou toda sua carga policial sobre os manifestantes, desencadeando uma onda de revolta popular contra as arbitrariedades policiais.

 

Após a ação covarde dentro da Central do Brasil (usando bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio em ambiente fechado) a PMERJ saiu caçando pessoas a esmo pelas ruas, trabalhadores, manifestantes e quem mais estivesse por ali, novamente jogando bombas a esmo. Nesta situação o senhor Tasnan Accioly, trabalhador nas ruas centrais da cidade, iniciou uma corrida desesperada pelo meio da avenida para tentar fugir da polícia, algo que muitas outras pessoas faziam no mesmo momento. O pânico causado e a fumaça das bombas tomou conta da via pública e neste momento é que o senhor Tasnan Accioly foi atropelado por um ônibus e teve as duas pernas esmagadas, atingindo artérias importantes do corpo e perdendo muito sangue. Foi socorrido e levado ao hospital Souza Aguiar, mas acabou por falecer no dia seguinte (07).

 

Uma situação de causa e efeito simples: a PMERJ criou o terror sobre as ruas, levando ao desespero aos transeuntes, situação que criou o clima indispensável para explicar o porquê de correr pelo meio da rua e causando o atropelamento e morte do senhor Tasnan Accioly. Por este motivo repudiamos a atuação da PMERJ e nos colocamos publicamente em solidariedade com a família e entes queridos deste senhor. Porém nos causa enorme desalento o esquecimento desta morte. Qual seria o motivo desta situação?

 

É fato que o ocorrido com o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade também nos causa profundo lamento e também nos colocamos aqui em solidariedade com os familiares e entes queridos deste trabalhador. Porém nos parece completamente evidente que quem desencadeou toda a situação foi a PMERJ e sua irresponsável atuação (jogando bombas de efeito moral a esmo, prendendo e batendo em pessoas aleatoriamente, desencadeando grande revolta entre trabalhares e manifestantes ali presentes).

 

Evidentemente que uma atitude irresponsável por parte de algum manifestante deve ser prontamente criticada. Mas a cobertura da mídia corporativa não deixa de demonstrar também os seus objetivos.

 

Ao qualificar prontamente dois manifestantes vestidos de cinza enquanto “black blocs”, sem antes ter apurado qualquer coisa neste sentido, a mídia corporativa mostra no mínimo sua incompetência e no limite sua completa parcialidade ante os fatos.

 

É um descalabro tentar vincular uma pessoa a uma tática de ação de rua, em detrimento de preceitos básicos desta tática, já que para ser um “black” bloc é preciso estar de “preto” e evidentemente alguém de cinza não compõe o conjunto de pessoas aderentes a esta tática. Mas o pior de tudo é verificar que na visão da mídia corporativa duas vidas têm valor distinto. E aparentemente a vida de um cinegrafista de uma televisão corporativa tem muito mais valor que a vida de um anônimo trabalhador.

 

Mas não nos deixemos enganar pela aparência forjada, pois a junção de ambos os erros da mídia corporativa nos evidencia um outro aspecto mais importante de sua atuação: ao dar relevo único ao acidente ocorrido com o jornalista, vinculando seu agressor à tática black bloc e ao mesmo tempo esquecendo completamente a morte do senhor Tasnan Accioly, vislumbra-se que mais uma vez o objetivo da mídia corporativa é criminalizar o movimento de rua e enquadrá-lo sob estritos limites, mostrando sua opção de estar ao lado dos poderes opressores secularmente constituídos (prefeitura, governo estadual e PMERJ).

 

Sabemos, no entanto, que a PMERJ não tem autonomia nesta decisão, que se deve em sua responsabilidade última ao consórcio do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral, ambos responsáveis pelos aumentos nos ônibus (municipais e intermunicipais) e gestores da máquina assassina da polícia militar. Assim, nos parece evidente que quem acendeu aquele pavio que atingiu o cinegrafista foram os senhores Eduardo Paes e Sérgio Cabral, responsáveis também pelo atropelamento do senhor Tasnan Accioly, sobre os quais deve ser computado o saldo da ação desastrosa e inconsequente da PMERJ.

 

Mesmo abalados e solidários às vítimas das consequências da atuação policial, não deixaremos de nos valer dos nossos direitos básicos e nos colocar contra o aumento. Lembramos ao prefeito e ao governador que o fim das manifestações está condicionado à revogação imediata dos aumentos.

 

Porém, em função dos últimos acontecimentos, a concentração para a próxima manifestação ocorrerá no mesmo local onde o cinegrafista da Bandeirantes foi atingido, demonstrando publicamente nossa memória e solidariedade com aqueles que foram atacados no decurso da luta contra os desmandos dos poderes constituídos.

 

Ninguém será esquecido!
Em repúdio a violência contra trabalhadores e manifestantes no último ato!
Até a vândala e violenta tarifa cair!
Por uma vida sem catracas!

MPL-Rio

 

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