Correio da Cidadania

Um idoso morreu na quinta-feira, 6, em meio a protesto no Rio

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Policiais lançam bombas na Central. Foto: André Mantelli

 

Na manifestação desta quinta-feira (6/2) contra o aumento da tarifa de ônibus no município do Rio de Janeiro, que vigorará a partir deste sábado ao valor de R$ 3 (um aumento de 9%), houve uma cena que não deve cair no esquecimento. Em meio à correria causada por bombas de efeito moral, arremessadas pela Polícia Militar na Avenida Presidente Vargas, uma das mais movimentadas no Centro do Rio, um senhor de 65 anos foi atropelado por um ônibus e, levado ao hospital, não resistiu. A reportagem do Canal Ibase estava cobrindo a manifestação e chegou ao local minutos depois do acidente.

 

Àquela altura, Tasnan Accioly, o idoso que havia sido atingido, ainda estava à espera de socorro. Trancados dentro do veículo, o motorista e a trocadora estavam amedrontados. Transeuntes que assistiram à cena contaram que o senhor, que seria um ambulante, teria corrido para a rua, em meio à multidão. Outros afirmam que o motorista também não conseguiu desviar, pois a cena ao redor dele já era de muita confusão. A despeito das dúvidas, fato é que, embora não esteja sendo computada nos números oficiais, houve uma morte que precisa ser registrada.

 

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Manifestantes chegam à Central. Foto: Camila Nobrega

 

O Corpo de Bombeiros confirmou o nome da vítima e afirmou ter feito o socorro, na Presidente Vargas, na altura da Rua da Conceição (onde fica o prédio do Detran). Segundo a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Saúde, ele faleceu na mesa de cirurgia do Hospital Souza Aguiar. A secretaria ressaltou que não está contabilizando esta morte junto ao número de feridos da manifestação, pois não tem evidências de que o atropelamento tenha ocorrido em decorrência do protesto. O órgão confirma, porém, que a vítima foi levada ao hospital no mesmo horário que os demais feridos. Certo é que a cena ficou marcada para os manifestantes que ajudaram a pedir socorro. E a morte, ocorrida em um contexto de muita tensão, não pode ficar de fora das reflexões de quem deseja uma cidade para muito além dos megaeventos.

 

No total, houve sete pessoas feridas no momento da confusão, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do município. O estado de um deles, como já foi largamente divulgado, é gravíssimo. Trata-se do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, atingido por uma bomba (Santiago faleceu no dia 10). A maior dúvida é saber quem atirou o artefato e de onde ele veio. Um comandante da Polícia Militar deu declarações à imprensa, afirmando que ela seria de fabricação caseira e teria sido jogada por manifestantes. Mas o jornalista da Globo News Bruno Menezes, que estava muito próximo ao local, afirmou que bomba foi lançada por policiais. (Após se apresentar à polícia, o tatuador Fábio Raposo disse, em entrevista à GloboNews, que passou o artefato que atingiu Santiago a um homem alto e com um pano no rosto. Quanto à afirmação de Bruno Menezes, a Globo News a tirou do ar). Um vídeo gravado pela BBC Brasil mostra o momento exato em que Santiago foi atingido. O câmera está internado no Hospital Souza Aguiar, e seu estado se mantém grave. As outras seis pessoas foram atendidas e liberadas. Já a Polícia Civil informou que 20 pessoas foram detidas durante o protesto, mas, com a atuação do Grupo de advogados voluntários Habeas Corpus, parte delas já foi liberada.

 

Bombas em todas as direções e ataques a jornalistas

 

Pouco antes dos acidentes, o brilho intenso dos últimos minutos de sol se confundia com uma profusão de luzes e fumaça, vindas de diferentes direções. Muitas faíscas explodiam no ar. Eram bombas de efeito moral, arremessadas pela Polícia Militar para dispersar manifestantes Por volta das 19h, a passeata que havia se iniciado na Candelária chegou à Central do Brasil. O objetivo era marcar o protesto contra o aumento da tarifa – que foi anunciado logo após o governador Sérgio Cabral também desonerar as empresas de transporte do Estado do Rio de Janeiro em 50% relativos ao IPVA – e também denunciar os maus serviços prestados diariamente pelas concessionárias nos ônibus, trens, metrô e barcas. Além disso, os manifestantes exigem mais transparência na relação entre o Estado e a prefeitura com as concessionárias, devido a suspeitas de favorecimento das empresas. A confusão começou no momento em que se iniciou o “catracaço”, no qual pessoas pularam as catracas. Já havia uma quantidade imensa de policiais no local, agindo com muita truculência. Foi então que os manifestantes arrancaram uma das catracas.

 

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Bloco do Nada toca durante o protesto. Foto: Camila Nobrega

 

A partir daí, a ação da polícia transcorreu de forma assustadora. Um grupo de jornalistas que registrava o protesto foi atacado por policiais ainda ali dentro. Uma bomba Foi arremessada exatamente à frente de uma linha formada por vários profissionais de imprensa, muitos cinegrafistas e fotógrafos. Foi nesse momento em que um policiais deu um chute na reportagem do Canal Ibase.

 

Dentro da Central, no hall da entrada para os trens e bem ao lado das catracas, dezenas de bombas de efeito moral joram jogadas, para todos os lados, no meio inclusive de trabalhadores que ali estavam apenas para pegar os trens de volta para casa. A palavra “jogadas” não está aí a toa. Quem tem acompanhado os protestos sabe bem que ela é apropriada, uma vez que tem sido recorrente o arremesso de bombas pela polícia sem nenhum critério, a esmo. Não raro, muitos grupos de manifestantes são atingidos pelas costas, enquanto correm, e sem oferecer, portanto, perigo, e sem possibilidade de defesa.

 

A situação se repete em relação a jornalistas que acabam na linha de frente para registrar a situação e, com frequência, têm sido alvejados pela polícia. Em repúdio aos ataques de ontem, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicou uma nota, ,em que afirma que o profissional da Band é o terceiro jornalista ferido em manifestações em 2014. No dia 25 de janeiro, dois jornalistas foram feridos em São Paulo: Sebastião Moreira, da Agência EFE, foi agredido por PMs; Paulo Alexandre, freelancer, apanhou de guardas civis metropolitanos. O texto afirma também: “É preocupante que 2014 comece com três casos de violência contra jornalistas. Se faz necessária uma apuração célere do ocorrido, para que procedimentos sejam revistos e para que o Estado proteja a liberdade de expressão, a liberdade de informação e o jornalista”.

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