PCC e Black Bloc: A frágil história do medo contada pelo Estadão
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- 03/06/2014
Uma das maiores especialistas do Brasil quando o assunto é o Primeiro Comando da Capital (PCC), a professora da Universidade Federal do ABC, Camila Nunes Dias, analisa, e questiona, o discurso dos possíveis black blocs apresentados pelo jornal paulista
No último sábado (31), o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria que noticiava a cooperação entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Black Bloc. O intuito dos grupos seria “provocar o caos” em São Paulo durante a Copa do Mundo.
Na matéria, produzida pelo repórter Lourival Sant’Anna, 16 pessoas que utilizam táticas Black Bloc durante os protestos teriam dado entrevista ao jornalista, onde falam do encontro com membros do PCC na Penitenciária de Tremembé e da relação com os “torres” da facção.
Camila Nunes Dias, socióloga, professora da Universidade Federal do ABC e uma das maiores estudiosas sobre o PCC no Brasil. Em 2013, lançou o livro “PCC – Hegemonia nas prisões e monopólio da violência”.
Segundo a socióloga, a matéria é “muito frágil, com argumentos difíceis de serem sustentados”. “É improvável essa associação. São posturas e comportamentos completamente divergentes, os membros do PCC devem achar o pessoal que pratica o Black Bloc uma ‘molecada’”, analisa Camila, que vê dificuldade no diálogo entre os grupos. “O PCC é uma organização, com lideranças estabelecidas, os meninos black blocs não são um movimento, eles mesmos dizem que não há lideranças”.
Em determinado trecho da matéria, um dos entrevistados afirma ao repórter que os “torres” do PCC respeitam o “idealismo” dos blacks blocs. “’Torre’ era um termo utilizado há muito tempo atrás, pelo PCC. Hoje em dia, usam ‘sintonia’ e ‘disciplina’. Isso mostra como está descontextualizado o discurso dos entrevistados, me pareceram muito fake as entrevistas”, afirmou a professora da UFABC.
Outro fato apresentado na matéria é contestado por Camila, o possível encontro de membros do PCC com os manifestantes black blocs em uma penitenciária em Tremembé, no interior de São Paulo. “Em Tremembé, ficam presos considerados de alta periculosidade, presos famosos. Não sei se levariam para lá dois Black Blocs”, rebate a socióloga.
Para Camila, os interesses do PCC em uma ação na Copa do Mundo são “mínimos”. “O que eles ganhariam? Uma tentativa de fuga em massa? Pouco provável. Uma ação desse tamanho os prejudicaria dentro e fora da cadeia, seus negócios seriam prejudicados. Provavelmente seriam levados para penitenciárias federais”.
Por fim, Camila analisou que os “entrevistados não demonstravam ter conhecimento sobre o PCC” e alertou: “Vivemos um momento de boatos políticos, que acabam por criar histórias sem fundamentos”.
Por Igor Carvalho, SpressoSP.