Correio da Cidadania

Movimento de ocupação do cais Estelita se reorganiza após repressão violenta

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Na manhã desta terça-feira, 17 de junho, quando boa parte das atenções estava voltada para o jogo da Copa do Mundo entre Brasil e México, o Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de Pernambuco surpreendeu o movimento #‎ocupeestelita e expulsou os cerca de 150 acampados no cais do porto. Eles lutavam pela nulidade do Consórcio Novo Recife. Mesmo com a arremetida violenta, o movimento já está se reorganizando para seguir na defesa pelo direito à cidade. Nesta quarta-feira, às 15h, será realizada uma entrevista coletiva embaixo da alça do viaduto Capitão Temudo.

 

Cerca de 50 pessoas estão novamente reunidas reerguendo o #‎ocupeestelita embaixo do viaduto, nas proximidades do cais. De acordo com Igor Souto Maior, participante do acampamento, em entrevista à Adital, várias frentes de trabalho estão sendo organizadas.

 

"Na frente jurídica, será pedido habeas corpus para um garoto da comunidade que está preso. Ao todo, 11 pessoas foram detidas, mas apenas ele ficou preso. Com relação ao local, estamos provisoriamente embaixo do viaduto. O ocupe vai funcionar sim, já está funcionando, mas o espaço ainda está se estruturando. Vamos continuar com parte da programação cultural e hoje acontecem aulas de fotografia”, informa Souto Maior.

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Ele assinala que "passado o estado de exceção” que viveram nesta terça-feira, agora a fase é de reestruturação e reprogramação. Como tudo é decidido de forma horizontal, é provável que ainda hoje [quarta-feira, 18] seja realizada uma assembleia com todos os/as ocupantes para definir os próximos passos do movimento e traçar novas rotas de ação. Também nesta quarta devem escrever um comunicado denunciando as perseguições a alguns participantes do movimento.

 

Antes de ser devastado, o #‎ocupeestelita estava em ação há 27 dias. Homens, mulheres e crianças passaram a ocupar a região e realizar atividades culturais como forma de chamar a atenção para a defesa do cais José Estelita e seu entorno. O local está ameaçado pelo Consórcio Novo Recife, grupo de construtoras que, em 2012, aprovou um projeto para a construção de 12 torres de até 45 andares.

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O projeto é polêmico e estaria cercado de irregularidades; já existem cinco ações judiciais que o questionam; uma movida pelo Ministério Público Estadual, outra pelo Ministério Público Federal e três ações populares que pedem a nulidade do ato administrativo do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) que aprovou a proposta imobiliária no final de 2012.

 

Mesmo com negociações em curso, o governo pernambucano teria desobedecido seus próprios protocolos - que previam informação prévia aos ocupantes e ao Ministério Público – e, nas primeiras horas da manhã de ontem [terça-feira, 17], o Batalhão de Choque retirou os ocupantes a base de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, deixando várias pessoas feridas. O Ministério Público de Pernambuco esclareceu que não tinha conhecimento da reintegração, por isso a ação foi considerada ilegal.

 

Na página (Facebook) do Movimento#OcupeEstelita uma mãe, que recebeu seu filho ferido após o confronto com a Polícia, deixou seu lamento e sua crítica.

 

"Nos tempos de hoje, onde se diz que versa a democracia, ver o poder público realizar um ato de extrema barbárie com os jovens em nome da defesa do poder das construtoras é algo muito doloroso. Em uma situação como essa, nós, mães, esperávamos que nossos filhos, no exercício pleno e pacífico dos seus direitos, tivessem o Estado como guardião, e não o contrário! O que me deparo, contudo, é uma situação de absoluta intransigência e abuso. Meu filho - por defender uma cidade mais justa - não merecia ser agredido com balas de borracha. Em um dia como hoje, onde tantas famílias se reúnem para ver o jogo do Brasil, ele está em uma emergência. Me pergunto que tipo de cidade e exercício da cidadania os nossos governantes compreendem?”

 

Por Natasha Pitts, Adital.

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