Sem mudança do modelo econômico, promessa de erradicação da miséria é um engodo
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- Paulo Passarinho
- 05/11/2010
"Rei morto, rei posto". A frase, pronunciada por Lula, foi dita pelo atual presidente para marcar a mudança que a vitória de Dilma Rousseff representa, e para afastar as especulações sobre opiniões que indicam que ele, Lula, poderia se comportar como uma espécie de "sombra" da presidente eleita.
É um esclarecimento importante, pois de fato as responsabilidades de Dilma são enormes, especialmente em decorrência da herança que Lula lhe deixa.
A principal questão emergencial a merecer a atenção de Dilma é a valorização do Real. Lula e Dilma, na recente entrevista coletiva que concederam, jogaram a responsabilidade pela tal "guerra cambial" nas costas dos Estados Unidos e da China. E afirmaram apostar na próxima reunião do G-20, em Seul, para procurar encontrar uma saída negociada e coordenada para a desvalorização acentuada do dólar em relação às moedas de grande parte dos países.
Dilma foi além, e já declarou ser contrária a medidas unilaterais que desvalorizam artificialmente as moedas. A alternativa, em estudo pelo governo, caso a reunião do G-20 fracasse, seria a adoção de mecanismos de antidumping – de defesa comercial.
Seria bom à Dilma, e ao país, refletir com um pouco mais de profundidade sobre esse assunto. Até porque isso lhe permitiria repensar o conjunto da política econômica.
Valorização de nossa moeda e juros reais elevados são características quase estruturais do modelo implantado na economia brasileira, desde os anos noventa. Apostar na abertura financeira, e ampliá-la, como feito por Lula, em um regime de câmbio flutuante, subordina a política monetária, e a política fiscal, aos humores e pressões do capital especulativo de brasileiros e de estrangeiros. Em um contexto de alta liquidez externa e de incertezas generalizadas nos países centrais do capitalismo, a periferia dócil e garantidora de lucros fáceis é mais do que uma opção de investimento, é uma verdadeira salvação. Para os capitais externos, bem esclarecido. Pois, para nós, brasileiros, a conta vai ficando insuportável.
O problema é que Dilma já repetiu o mantra mais ao gosto da piranhagem financeira: câmbio flutuante, equilíbrio fiscal e controle da inflação. Rei morto, rei posto, e a mesma dinastia a comandar os nossos destinos...
Enquanto a nossa presidente eleita aposta em soluções para o problema da nossa moeda em fóruns multilaterais, os Estados Unidos, de forma soberana, continuam a assumir medidas voltadas ao seu próprio interesse. É o caso, por exemplo, do anúncio feito pelo Banco Central americano de comprar US$ 600 bilhões em títulos, com o objetivo de irrigar a sua economia com mais dinheiro. Independentemente de ser essa uma medida adequada aos dilemas da maior economia do mundo, o problema é que possivelmente teremos uma pressão ainda maior de entrada de recursos em dólar, por aqui. E isso fará com que nossa moeda continue em sua trajetória de valorização...
Portanto, pensar em medidas unilaterais é uma necessidade premente para o país, caso Dilma queira enfrentar esse problema.
Mas, há outras armadilhas. Equilíbrio fiscal, por exemplo, poderia ser buscado através de um processo gradativo, mas contínuo e decidido, de redução das taxas reais de juros. Porém, essa hipótese – da redução da taxa de juros –, dentro da visão defendida até agora pelo governo, fica condicionada à prévia redução dos gastos públicos, especialmente dos gastos correntes, para que se abra espaço para a manutenção e ampliação dos gastos em investimentos. "Mas, recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos", afirmou Dilma. Cabe, então, a pergunta: onde poderiam ocorrer esses ajustes? Através de uma nova rodada de contra-reformas na área previdenciária? Em algum mecanismo voltado para a definição de metas de expansão dos gastos correntes, em particular nas despesas com o pagamento dos vencimentos do funcionalismo? Afirma-se que o governo Lula já recuperou as pesadas perdas salariais impostas aos servidores pelo governo FHC. Entretanto, além desse fato não ser confirmado para muitas categorias, há ainda a necessidade de se dar seqüência à justa política de novos concursos, colocada em prática pelo atual governo. Como ficaria, então, os tais cortes de despesas que poderiam viabilizar, posteriormente, a redução da taxa de juros?
A saída poderia se situar na manutenção das atuais taxas de crescimento da economia, implicando elevação das receitas tributárias e uma maior folga orçamentária. Contudo, nesse ponto, voltamos ao problema externo. A atual dinâmica de crescimento da economia - com abertura financeira, câmbio flutuante, e altas taxas de juros - impõe a valorização do Real, o barateamento e crescimento das importações, e a perigosa redução do saldo comercial do país. O Brasil volta a ficar refém dos capitais externos para fechar as suas contas com o exterior, com mais desnacionalização do parque produtivo, maior participação de capitais especulativos na dívida pública e em bolsa de valores, e maior vulnerabilidade externa frente a qualquer turbulência financeira que estabeleça uma abrupta reversão de expectativas e uma rápida saída desses capitais para fora do país.
Por isso, caso Dilma queira superar a herança de Lula, enfrentar o que o seu criador não topou seria inevitável.
Para erradicar a miséria, conforme o seu desejo, e gerar empregos de qualidade no país, com ênfase em um projeto que de fato se assente em uma economia doméstica diversificada e sob comando de setores brasileiros – única forma de internalizarmos um processo virtuoso de geração de tecnologia e conhecimento científico, sob nosso controle, e com o aporte educacional necessário para um processo dessa natureza -, somente com coragem para mudar o atual modelo econômico.
Para tanto, Dilma precisaria substituir o atual comando do Banco Central, adotar mecanismos de controle sobre a movimentação de capitais externos, abolir a política fiscal baseada nas metas de superávit primário e abrir espaço no orçamento público, através da redução da taxa de juros e da reestruturação dos termos de refinanciamento da dívida pública interna, para o aumento dos gastos públicos, em particular dos investimentos.
Poderia Dilma assumir um programa dessa natureza? Valter Pomar, dirigente nacional do PT, e líder de uma de suas correntes de esquerda, acredita que Henrique Meireles esteja com os seus dias contados à frente do Banco Central. Em entrevista ao Programa Faixa Livre, ele declarou que Dilma irá compor uma equipe econômica mais homogênea, mais à feição da linha desenvolvimentista, existente hoje, segundo o próprio Pomar, na área do ministério da Fazenda.
Seria um primeiro passo, ainda que insuficiente. O problema não se situa apenas nos quadros dirigentes, mas na opção política a ser adotada. E, nesse caso, exorcizar o mantra financista, a verdadeira herança maldita que nos sufoca como nação independente, seria o mais relevante.
Paulo Passarinho é economista e membro do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro.
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Comentários
do pacto sinistro entre Bolsa Família e Selic banqueiro, entre o consumo popular movido a endividamento e os generosos subsídios com os recursos do FAT para o megaempresariado, não haverá jamais desenvolvimento e muito menos inclusão social.
resultado: continuamos com a maior taxa de juros reais do mundo e com a moeda que mais se aprecia, reprimarizamos a pauta de exportações e avançamos na desindustrialização.
afinal, se era prá isto, prá que aquilo tudo?
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Portanto, não posso entender certas profissões de Fé, sem nenhuma base indicativa que, de forma factual e não apenas verbal, nos indique este governo da PresidentA DiLLma (esta é a grafia completa que passo a usar, em referência a ela)vá em outra direção, senão a do aprofundamento do Plano Internacional que transformou o Brasil em um campo de negócios, para salvar o Capital Internacional.
E isso exige a doação e até um certo aumento das esmolas e migalhas, para mitigar um pouco os maus efeitos da extração a "forceps" de nossas riquezas, exploraçao de nosso trabalho, vampirização de nosso sangue, benefício de nosso suor e descaso com nossas lágrimas.
Acho que R$600 por mês é pouco, para para pagar isso tudo. Mas, nem todos pensam assim.
Preocupa-me a frase recorrente de Paulo Passarinho na brilhante condução do Faixa Livre que "não há como negar avanços (ou melhorias ou diferenças positivas) no governo Lula".
E não posso deixar de achar esta frase incoerente, com tudo o que tem escrito e publicado, o Paulo Passarinho.
Penso não estar a altura da capacidade e esclarecimento que Paulo Passarinho possui, tranfeferir para si e como verdade, algo que é, a meu ver, apenas uma "impressão popular", pois o Povo está sendo enganado e distraído do principal, em massiva campanha midiática e correlatos, o que aliás tem sido denunciado também por Paulo Passarinho, com muita frequência.
Por isso divirjo do final de seu editorial de quinta feira passada no Programa quando terminou dizendo "espero que a presidente Dilma tenha todas as condições para exercer da melhor maneira possível o seu mandato e eleja as melhores opções para o Brasil" (ou coisa no mesmo sentido).
De minha parte, continuarei tentando atrapalhar ao máximo esta jornada macabra que se inicia com este pastiche dominado, daquela jovem esquerdista, hoje a maior representante (mais do que Lulla, que nunca foi de esquerda) do que chamo de Ex Esquerda Corporation S.A., despida de forma peremptória que está, de qualquer resquício de seus pensamentos de outrora, persistindo apenas vagos sentimentos de amor pelo difuso, em sua mente, Povo Brasileiro.
Ah! E, até que ele prove em contrário em Atos (e não em Papo), há muito que não levo como coisa que se reproduza como verdade, aquilo que Walter Pomar e seu irmão Wladimir Pomar (siameses na política). O que escrevem e dizem apenas faz parte do que chamo de Liturgia da Mentira Política para Manutenção do Poder.
A incapacidade da presidentA DiLLma em tomar medidas unilaterais é o principal legado desta política externa e diplomártica dúbia que Lulla tomou para si. Sendo que o não ataque a Chávez, Evo Morales e Cuba, nada mais é do que conveniência e a moedinha de troca que concede aos Irmãos Pomares da vida, para a manurtenção da Anestesia Social.
Termino com a frase da PresidentA DiLLma, em entrevista recente, quando perguntada sobre Chávez: "Ele é presidente eleito de um país da América do Sul, e teremos de conviver com ele...".
Tirem suas conclusões, pois eu já tenho as minhas, necessitando, pois, que estes protagonistas da cena política brasileira traduzam em ATOS (não falhos) o que alguns (os Pomares, por exemplo)dizem que é "líquido e certo" e que outros manifestam alguma esperança (talvez sem acreditar muito nsso).
Desta gente eu sou CREDOR e não DEVEDOR! E Credores cobram, sem ficar a imaginar quando é que vão receber a dívida, ao sabor da convera fiada de seu devedor.
Menos do que isso, a meu ver, é entregar a própria dignidade, a meu ver. A exploração vai muito longe e profunda para exigirmos menos.
"Seja Realista, Exija o Impossível" (pois nunca vi alguém que, em luta, exigiu só o que precisa, receber mais do que 10% de seu pleito).
Luta de Classes, para mim, se traduz em atos, desta forma. O resto é Doutina, coisa que estou fora!
esta que un cuarto com un bano y cocina esta ha $775.00 al mes.la ropa super cara los zapatos regulares ha un presio de $45.00 y por hai este mercado neoliberal de mercado sin control. en los momentos de crisis economica sube los presio de todo si importarle quien sufra.por eso muchos en eeuu se quedan sin trabajo sin apartamentos y sin casa.porque ganando $7 o $8 la hora no pueden cumplir com los gasto de sus familias y el gobierno de eeuu se crusa de braso.una
economia capitalista que esta demostrando que su practica estan fracasando eso sin contar la ola de pandillerismo juvenil y la dilencuencia sin control en cada ciudad
amanecen muerto por todos lados y la dilencia jamas la controlaran som males de las sociedades capitalista sin control.por eso digo que el mismo capitalismo de mercado neoliberal sin control ellos mismo sean destruido y han fracasado por eso y muchas inificiencias ha todo nivel.por eso ya
los paises civilizados no quieren emitar ya los sistemas capitalistas de mercado por que han visto sus grandes errores en su practicas.debiera ver un sistema mixto mitad capitaliso y mitad socialismo una sociedad mixta ok
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