Correio da Cidadania

EUA atacam e cercam Ucrânia e Rússia

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Não se trata de uma disputa entre EUA e Rússia sobre a Ucrânia, mas, sim, o ataque e cerco dos EUA contra a Ucrânia e a Rússia (e, por tabela, toda Ásia e África). A questão é geoestratégica, apoiando o golpe de Estado da coalizão liberal-nazista na Ucrânia contra o governo liberal de Victor Yanukovich, que se recusou a assinar um desvantajoso acordo econômico com a União Europeia (UE). E, retomando o armamento e financiamento dos grupos jihadistas opositores do governo de Bassar al-Assad, na Síria, Washington retoma a ofensiva contra a Rússia, cercando o país pelas frentes oeste e sudoeste. Projeta-se, desta forma, também a possibilidade de um ataque ao Irã, levando de roldão toda a Ásia.

 

Por este motivo, não se pode afirmar que Rússia e EUA estão disputando áreas de influência ao redor do mundo, como se ambos os países tivessem o mesmo poderio militar, econômico, ideológico e cultural. Ao contrário dos EUA, a Rússia não tem bases militares ao redor do planeta e nem um "russian way of life" disseminado em escala planetária pela sua inexistente indústria cultural (“soft power”). Desta forma, são os EUA que estão atacando a Ásia e a África (além de impor a total submissão econômica e cultural da América Latina), e não a Rússia (e nem a China) quem está cercando os EUA.

 

Quanto ao quase inexistente “soft power” russo, nenhum povo do mundo quer adotar o estilo de vida russo ou chinês, mas a maioria dos povos deste planeta quer consumir os valores do "american way of life".

 

Lamentavelmente, há uma grande dificuldade do meio intelectual de entender a profunda assimetria de poder militar, econômico, ideológico-cultural entre a Rússia (e, por tabela, a China) e os EUA. Neste sentido, podemos afirmar que há uma ofensiva permanente dos EUA contra a Rússia e China, nestes últimos vinte anos.

 

Há uma explicação geográfica para esta assimetria: os EUA são uma potência naval, enquanto Rússia e China são potências terrestres. Por isto, os EUA e suas mais de 800 bases militares ao redor do planeta podem levar a guerra para onde, como e quando quiserem, não ocorrendo o mesmo com a Rússia ou a China. A única base naval russa ultramar, de Tartus (a única de Moscou), na Síria, não se revelou um poder dissuasório sobre as agressões israelenses e ianque entre 2012 e 2013.

 

Sendo assim, os EUA podem intervir nos assuntos internos da Síria, da Ucrânia, do Iraque, do Afeganistão, do Egito, do Sudão do Sul, entre outros países, além de travarem duas guerras simultâneas por mais de uma década a mais de 10 mil km de distância de sua base territorial (Afeganistão e Iraque). Enquanto que a Rússia mal pode estabelecer laços econômicos com a sua vizinha Ucrânia, o país que forjou a nação russa há mais de um milênio.

 

A disputa agora existente na Ucrânia, entre os liberais-nazistas pró-UE, financiados e armados pelos EUA, e os liberais pró-Rússia, pode se desdobrar em uma guerra “civil” aos moldes da Líbia, onde uma insurreição dita popular foi armada e financiada pela OTAN e os EUA para derrubar a Jamahiryia soberana liderada por Muamar Kaddafi e implodir o país. O objetivo, portanto, não foi a “mudança de regime”, mas simplesmente a destruição de uma nação soberana.

 

A Ucrânia pode ser balcanizada, desestabilizando a fronteira com a Rússia. A capital ucraniana Kiev dista cerca de 750 km de Moscou, capital russa, assim como cerca de 550 km separam a fronteira ucraniano-russa da sede do poder russo, distâncias irrelevantes em termos militares. Desta forma, a posse da Ucrânia dará acesso às planícies ao sul de Moscou. Portanto, um ataque à Ucrânia é um ataque à Rússia.

 

Se Putin não expulsar os EUA da Ucrânia, o espectro da III Guerra Mundial voltará a assombrar a humanidade. E a sanha genocida dos EUA e de sua elite/casta racial/classe de proprietários brancos anglo-saxões será revigorada, e não encontrará limites, ameaçando a existência de toda Humanidade. Como já haviam demonstrado nas guerras que travaram desde o século XIX.

 

Ramez Philippe Maalouf é historiador (Uerj) e doutorando em Geografia Humana (USP)

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