Dilma e o ingresso no Conselho de Segurança da ONU
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- Virgílio Arraes
- 12/09/2014
Discursos de posse de autoridades costumeiramente anunciam as intenções do mandato ou às vezes até chegam a apresentar planos mais bem delineados das áreas em que o futuro dirigente tem mais inclinação ou experiência.
No caso da presidência da República, em vista do tempo da locução ao público e da abrangência da responsabilidade política, a fala é assaz genérica, de maneira que se possam recordar os principais pontos da campanha na vindoura administração.
No caso de Dilma Rousseff, a expectativa do eleitorado dirigia-se ao segmento de energia, onde ela havia-se destacado aos olhos da gestão predecessora.
Nesse sentido, apontava ela que em termos de pesquisa, inovação e preocupação ambiental “o grande agente desta política é a Petrobrás, símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética” - http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-compromisso-constitucional-perante-o-congresso-nacional
No tocante à política externa, a presidente indicava que o Brasil manteria o norte ‘clássico’, ou seja, a autodeterminação dos povos, a promoção da paz, a defesa dos direitos humanos e a valorização do multilateralismo, o que implicava dedicar-se ao robustecimento de instituições regionais como Mercosul e Unasul.
Relativamente aos organismos mundiais, Rousseff manifestava a necessidade de reforma deles, notadamente a do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, estruturado logo depois da Segunda Guerra Mundial.
Diante disso, ensejar-se-ia de fato a inevitabilidade de nova composição dos assentos permanentes, em função do atual quadro contemporâneo, em que potências tradicionais convivem mais com as chamadas emergentes.
Não se negaria a imperatividade da reconfiguração do organismo onusiano, haja vista a composição de equilíbrio de poder nas relações internacionais ser sempre conjuntural, mas isto não implicaria a participação fixa do Brasil naquele importante conselho.
A razão seria a insuficiência de predicados essencialmente militares e econômicos. Mesmo assim, isto não desestimulou o governo a desistir da questão ou ao menos a suspender temporariamente o desejo, a não ser a partir do momento em que a adversidade financeira interna se fortaleceu.
Durante os primeiros dias de governo, correta foi a decisão de planejar a visita a países próximos comercial ou politicamente. Deste modo, relacionaram-se futuras viagens aos Estados Unidos e China bem como à Argentina e Uruguai.
O pleito de participação frequente do Conselho de Segurança não foi posto de lado por um dos mais significativos aliados do Brasil: Portugal, segundo país visitado por Rousseff durante sua gestão – março de 2011.
Combalido financeiramente, a pequena nação atlântica afirmou o apoio irrestrito à aspiração brasileira tanto na data da posse, via primeiro-ministro José Sócrates, como na viagem a Lisboa, através do presidente Cavaco e Silva.
Especulou-se que a aproximação teria como uma possível contrapartida a aquisição de títulos lusos da dívida pública, ofertados ainda no final da administração Lula. Ao cabo, nem um, a candidatura à vaga eventual, nem outro, a compra dos títulos, prosperou.
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Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.