Lula e Obama: convergência em torno do sofrido Haiti
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- Virgílio Arraes
- 13/10/2016
No alvorecer de 2010, a Casa Branca anunciou de maneira oficial a visita da titular da Secretaria de Estado, Hillary Clinton, ao Brasil. A vinda da hoje candidata do Partido Democrata à presidência da Republica indicava que o aparente desgaste no relacionamento dos dois países por causa da divergência sobre a destinação final do programa nuclear do Irã havia sido superada ou não havia tido impacto na convivência regular.
No entanto, uma inesperada e trágica ocorrência em um pequeno país do Caribe chamou a atenção e terminaria por ensejar a necessidade de uma atuação conjunta mínima não só entre os dois governos, porém entre a própria Organização das Nações Unidas (ONU):
Um terremoto próximo de sete graus e meio de magnitude no Haiti – intensidade superior ao sismo de 1984 - cuja extensão na devastação afetou a já precária infraestrutura daquele território e ocasionou a morte acima de 200 mil pessoas, entre as quais a de dezoito militares e a de três civis brasileiros, sendo uma delas a da médica Zilda Arns, conhecida havia muito por sua importante atuação humanitária – ela havia sido uma das fundadoras da Pastoral da Criança em 1983.
Desde 2004, Brasília liderava a parte militar do encargo onusiano, identificado pela sigla Minustah, voltado para a estabilização política de Porto Príncipe, tumultuado a datar da deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide em fevereiro de 2004. Sua substituição contou com a anuência visível de potências tradicionalmente vinculadas ao Haiti como Estados Unidos e França.
Envolvidos em dois conflitos médio-orientais, Washington, aliado de Paris, patrocinou a constituição de missão sob os auspícios da ONU, de sorte que ele se embaraçasse menos no oscilante processo de transição.
De pronto, Brasília demonstrou interesse em participar nela. Na altura do cataclismo, o país possuía em solo haitiano pouco mais de 1250 combatentes, sob o comando do general de brigada Floriano Peixoto Vieira Neto.
Diante da tragédia, governos movimentaram-se de forma distinta, por vezes até aquém do aguardado em vista das conexões históricas com o arquipélago ou da sua solidez financeira. Os Estados Unidos se dispuseram a remeter a quantia de cem milhões de dólares para a imediata reconstrução de partes do país e logo despacharam uma divisão, sob a liderança do general Ken Keen, na qual se envolviam cerca de 20 mil componentes.
O zeloso Canadá chamou a atenção pela modesta ajuda: 5 milhões de dólares seus - embora tenha enviado em torno de 2 mil efetivos para prestar auxílio na ilha - mas superior à surpreendente oferta da União Europeia ao disponibilizar modestos 3 milhões de euros.
De maneira separada, a França propôs a realização de uma conferência para estruturar a forma mais apropriada de recuperação do Haiti. De modo paralelo, decidiu deslocar da Armada a tripulação de dois navios, entre os quais o hospitalar Francis Garnier, para se somar ao quase meio milhar de militares lá instalados.
Em menos de sete anos, a sofrida e tenaz população tentava recuperar-se a más penas, quando foi acometida de outra catástrofe, o furacão Matthew, provocadora de centenas de mortes e de novos prejuízos materiais, em especial no sul. Espera-se que a ajuda internacional seja, desta vez, provida de maior eficiência e celeridade.
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Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.