Estados Unidos e Brasil – a passagem de bastão de Lula para Dilma
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- Virgílio Arraes
- 20/04/2017
Os momentos finais da gestão Lula da Silva foram de bastante otimismo, em função da eleição da própria sucessora, com diferença percentual significativa, e do crescimento econômico, malgrado a crise global continuasse a pairar sobre a população mundial. Encerrava ele o mandato com alto índice de popularidade, um dos maiores da história.
Diante de tal moldura, o presidente trabalhista desabafou em café da manhã a jornalistas de diferentes veículos de comunicação, ao mencionar de maneira negativa a postura dos Estados Unidos perante a América Latina, no caso ‘imperial’, a despeito de sua sociedade ser composta por mais de dez por cento de oriundos da região - http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE6BQ0BY20101227?sp=true.
Por outro lado, ele se manifestou de modo positivo sobre o papel a ser desempenhado pelo país como recompensa política em decorrência da suposta ausência de subserviência às grandes potências: a integração permanente ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS/ONU).
Em havendo continuidade da coligação partidária à frente do Planalto, os temas de um dirigente se estenderiam de forma natural à outra. Assim, um dos mais importantes seria o da aquisição dos jatos.
Governos norte-atlânticos – Estados Unidos, França e Suécia - desejavam mercadejar com o Brasil seus caças, vez que o total da transação, se consolidada, seria bastante vultoso, dado que se cogitava de maneira inicial a compra de trinta e seis aeronaves.
Com poucos dias de titularidade no cargo, a presidente Dilma Rousseff receberia em audiência os senadores John McCain, candidato derrotado do Partido Republicano à Casa Branca em 2008, e John Barrasso em viagem de uma semana a cinco países do continente onde se mesclavam, de acordo com informe oficial, comércio e segurança regional.
A pauta específica e real para o Brasil era a de reforçar a venda de aviões norte-americanos produzidos pela Boeing, ao se comunicar naquela ocasião ao Planalto que o óbice inicial - a ausência de transferência de tecnologia ao setor militar aeronáutico – seria eliminado. Com isso, o fabricante estadunidense poderia retornar a concorrer com chances de êxito.
Antes da vinda ao solo pátrio, a ênfase da delegação senatorial recaía no esforço de destacar a ação da administração local com o propósito de reduzir a pobreza, sem aludir à aplicação de políticas compensatórias, e de opor-se ao crime, sem referir-se à maior desenvoltura da polícia federal.
Como afago ao país, expressavam os legisladores de Washington a ideia de contrariedade aos subsídios concedidos a produtores de etanol norte-americanos pelo seu governo - https://www.mccain.senate.gov/public/index.cfm/2011/1/post-6187330b-f809-6243-f00e-88818d94accb .
O convívio entre os dois países estava em bom patamar, tanto que o Planalto anunciaria o aceite do convite da Casa Branca para que Dilma Rousseff fosse avistar-se com Barack Obama em poucas semanas – até março, se possível.
A pauta prévia contemplaria no segmento militar a intempestiva questão nuclear do Irã; na política, o polêmico relacionamento com os governos bolivarianos; na econômica, a inesperada forma de exploração das jazidas do pré-sal, observada como desfavorável ao interesse das corporações norte-atlânticas em face do prestígio da Petrobrás.
No entanto, haveria inversão do deslocamento dos dirigentes: o mandatário norte-americano é que viria a Brasília como maneira de demonstrar apreço pela nova presidente e desta feita reforçar nova fase na relação bilateral, desgastada de certo modo nos momentos derradeiros da gestão Lula da Silva.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.