Estados Unidos e Brasil – parceria ansiada, mas sem desenlace
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- Virgílio Arraes
- 02/05/2017
Na vinda do presidente Barack Obama ao solo pátrio em março de 2011, a atenção comum da Casa Branca e do Planalto destinava-se à economia, uma vez que na política não havia preocupação de monta em função da convergência – democracias formais assinaladas por problemas sociais, malgrado o grau variado.
Seria uma deferência diplomática ao Brasil; ao México, ela havia sido feita duas vezes – em abril de 2009 de modo individual e em agosto do mesmo ano de maneira coletiva ao comparecer à Cúpula de Líderes da América do Norte. Nesse sentido, a Argentina considerou-se objeto de desconsideração, por não ter sido incluída na pauta presidencial – além de Brasília, apenas Santiago e San Salvador.
Havia sem dúvida atritos entre os dois, porém passageiros, como os relativos ao controvertido programa nuclear do Irã ou ao bolivarianismo da Venezuela, já em fase difícil por causa da instabilidade do preço do petróleo.
A própria retórica norte-americana encarregar-se-ia de diluir visões negativas quanto ao propósito do curto deslocamento do mandatário estadunidense, ao aludir costumeiramente à possibilidade positiva de parcerias, à importância de toda região para o país ou até para o planeta em segmentos como agrícola, ambiental, de direitos humanos e de diminuição da miséria ou da pobreza.
Naquele contexto, os dois governos ansiavam por revigorar seu crescimento, subscrito por índices modestos, em decorrência dos persistentes efeitos da crise econômica de 2008 – no caso do Brasil, o constante desempenho assaz insatisfatório contribuiria para o ocaso do poder do trabalhismo cinco anos depois.
Assim, ambos os governantes desejavam a valorização do yuan, com a finalidade de reduzir de forma gradativa o peso da China em suas importações, um entendimento mínimo sobre bitributação, prévio a acordo, e a simplificação na emissão de vistos, em especial aos conectados com trabalho.
Outrossim, Brasília aspirava à modificação das severas barreiras alfandegárias de Washington para seus produtos agrícolas, ainda mais em momento de indefinição da cotação de alguns deles.
Por seu turno, a Casa Branca queria maior inclusão de suas corporações em infraestrutura e energia, a despeito de não ofertar contrapartidas como a de acesso com menor dificuldade, na época, ao ingresso de etanol.
Desde 2010, o país produzia acima de dois milhões de barris por dia. Com as possibilidades oriundas do chamado pré-sal, a perspectiva de tornar-se exportador de peso em breve atraía de maneira aparente a atenção norte-americana, em decorrência da postura de diversificação de fornecedores – o marco remonta aos anos cinquenta, logo após a Guerra da Coreia.
Destarte, Washington busca não depender bastante dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ou dos do golfo Persa. De forma tradicional, Canadá, Arábia Saudita, Venezuela e México costumam ser-lhes os principais vendedores.
No entanto, o ritmo de importações estadunidenses declina de modo constante desde aquela época, seja pelos efeitos persistentes do apuro produtivo de 2008, seja pela diversificação de fontes. O patamar encontra-se em grau similar ao de antes da virada do milênio. Quanto ao Brasil, o auge de suas vendas àquele país foi 2009 e, a datar deste período, declinam-lhe também os números https://www.eia.gov/beta/international/analysis.cfm?iso=BRA e https://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=PET&s=MTTIMUSBR1&f=A
Os ocasionais gastos esportivos pátrios com os dois eventos mundiais em 2014 e 2016 fascinavam a diplomacia norte-americana quanto à perspectiva de poder beneficiar suas próprias corporações com empregos e com remessas de lucros para as matrizes. No entanto, a heterodoxa confluência de interesses entre o governo local e as empreiteiras dificultaria a aspiração estadunidense.
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