Brasil – Estados Unidos: otimismo político precipitado da gestão Dilma
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- Virgílio Arraes
- 17/08/2017
No segundo semestre do primeiro mandato, Dilma Rousseff, de maneira bastante distinta do ocorrido na fase inicial do segundo termo presidencial em 2015, foi considerada uma das dirigentes mais influentes do globo, de acordo com a revista estadunidense Forbes. A francesa Christine Lagarde, diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi a nona colocada enquanto a platina Cristina Kirchner, a décima sétima - https://www.forbes.com/sites/carolinehoward/2011/08/24/the-worlds-100-most-powerful-women-this-year-its-all-about-reach/2/#7296dc082fb6.
A brasileira figurou em terceiro lugar no quadro classificatório de cem mulheres da publicação quinzenal, abaixo da primeira-ministra alemã Angela Merkel e da titular da chancelaria norte-americana Hillary Clinton – entre as mencionadas, só a mandatária germânica continua no poder sem percalços de monta. Entre as indicadas na lista, preencheram-na apenas oito dirigentes de Estado.
O otimismo daquele período, mesmo efêmero, foi reconhecido pelo semanário britânico Economist, ao afirmar que o Brasil ocupava o espaço político dos Estados Unidos na região, ainda que por causa das disputas internas na grande potência entre as duas maiores agremiações partidárias - http://www.economist.com/node/21528271 .
Em decorrência da influência dos republicanos no parlamento, anunciava-se a possibilidade de interrupção do pagamento da anualidade à Organização dos Estados Americanos (OEA) a datar de 2012. A ameaça terminaria por não materializar-se, mas alarmava, dado que Washington tem sido o maior contribuinte - https://fas.org/sgp/crs/row/R42639.pdf
Seu presidente, Jose Miguel Insulza, havia suspendido Honduras na instituição por causa do golpe em junho de 2009 em desfavor do mandatário Manuel Zelaya a contragosto de setores mais conservadores de Washington. Além disso, era considerado assaz simpático aos governantes do círculo bolivariano e de Cuba.
De modo paralelo, a concentração da Casa Branca voltava-se para a aprovação no Capitólio de dois tratados de livre comércio: um com a Colômbia e o outro com o Panamá, originados na época da gestão Bush Jr.
A datar da dupla subscrição parlamentar, o governo esperava a adesão de novos parceiros regionais. Em face disso, a oportunidade para a articulação política continental punha-se à mesa para o Planalto, desde que se dispusesse a isto.
Por último, havia a simbologia da preocupação por parte dos Estados Unidos com o espraiamento do terrorismo fundamentalista, haja vista a efeméride dos dez anos do atentado de setembro de 2001 ao seu território, momento em que quase três mil pessoas faleceram.
Embora o país não tivesse sido atacado desde o fatídico dia da utilização de aviões comerciais como armas contra a população em Nova York e Washington, suas ações externas de combate – duas guerras médio-orientais – ao integrismo patinavam, a despeito da solidariedade castrense norte-atlântica.
Com desembaraço, a presidente Dilma Rousseff propôs somar-se aos esforços diplomáticos de Barack Obama com o objetivo, em suas palavras, de ‘ordem internacional mais pacífica e justa’ - http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/notas-oficiais/mensagem-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-ao-presidente-dos-estados-unidos-da-america-barack-obama. Uma preocupação subjacente seria a de não misturar o radicalismo de algumas entidades no Oriente Médio com a religião islâmica ou com a cultura árabe.
A inclinação positiva ao Brasil estendia-se à economia também, ao acreditar o governo local que as derivações da crise de 2008 eram-lhe diferentes, caso comparadas com as da Europa Ocidental e as da América do Norte, malgrado as indicações de que o produto interno bruto cresceria pouco acima da metade de 2010 – de 7,6% para 3,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2012, outra descida: de novo, a metade do período antecessor: 1,9%.
No entanto, a atenção do Planalto direcionava-se à abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), proscênio no qual o Brasil desejava apresentar-se ao mundo como referência para o enfrentamento e, portanto, para a solução da severa aflição econômica – de acordo com a presidente, o número de desempregados superaria os duzentos milhões no planeta.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.