Brasil – Estados Unidos: a ilusão do prestígio em solo estadunidense
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- Virgílio Arraes
- 23/08/2017
Setembro é o mês de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao Brasil, concede-se especial deferência, desde os primórdios do funcionamento da instituição após a Segunda Guerra Mundial, ao se destinar-lhe o primeiro discurso diante de representantes de – hoje em dia - quase duzentos países. A contar de 1949, com pequenas variações na ordem ao longo dos anos, é sua a preferência.
Depois de deslocar-se para o território norte-americano em setembro de 2011, a presidente Dilma Rousseff avistou-se com Barack Obama - anfitrião em certa medida do encontro onusiano e com quem havia estado seis meses antes em solo brasileiro - David Cameron (GB), Nicolas Sarkozy (FR) e Felipe Calderón (MEX).
No proscênio do órgão, ela tratou de guerra e paz, ao abordar a situação do Oriente Médio e cercanias como a Líbia, de desenvolvimento sustentável, em decorrência da realização da Conferência Rio + 20 no ano seguinte, da persistência da crise econômica de 2008, em vista dos desdobramentos sobre programas sociais internos, e, por fim, de ocasional modificação do Conselho de Segurança da própria organização, indevida fixação da política externa nacional. Segundo ela, seria a alocução da esperança - http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-na-abertura-do-debate-geral-da-66a-assembleia-geral-das-nacoes-unidas-nova-iorque-eua
Naquela ocasião, ela ainda receberia distinção de relativa importância: a do Woodrow Wilson Center concernente ao serviço público. A premiação de 2011 contemplou, entre outros, Jacques Attali, presidente do Banco Europeu para (sic) a Reconstrução e o Desenvolvimento (1991-1993) e assessor de François Mitterrand (1981-1991).
Em homenagens anteriores, três brasileiros haviam sido reconhecidos: Lula da Silva (2009), Zilda Arns Neumann (2007) e Rui Mesquita (2006). Dirigentes locais, militares e ex-titulares do Departamento de Estado costumam ser galardoados também, como Henry Kissinger (2006) e Condoleezza Rice (2010) - https://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/psawardeesfeb2012.pdf
Na sessão com Obama, Dilma apontou a necessidade de debater-se mais o baque financeiro, haja vista sua continuidade até aquele tempo no planeta. A datar de 2011, o aumento do Produto Interno Bruto do Brasil tem sido decepcionante – pior que na época da gestão oficialmente socialdemocrata de Fernando Henrique Cardoso, mas de primária aplicação neoliberal.
De modo angustiante, vive a maioria da população a começar de então drama cotidiano na expectativa de qual momento haverá governo progressista – competente - para encerrar o nefasto período recessivo.
Naquela fase, Brasília estava há dois anos com déficit comercial com Washington. Em 2011, a situação pioraria em função do valor do saldo desfavorável. Até 2016, o quadro repetir-se-ia.
A mudança só aconteceu em março de 2017, auxiliada de forma provável pela continuidade da crise brasileira. Em decorrência da diferença qualitativa de produtos exportados de cada um dos dois lados, seria mais difícil de fato para o país obter resultados positivos de longo prazo.
Desta maneira, o Planalto contentou-se em seus contatos com a Casa Branca a anunciar suas quiméricas intenções de reversão do quadro comercial bilateral. De prático entre os gigantes norte-americanos, sobrou apenas à diplomacia nacional a responsabilidade de definir com sua contraparte estadunidense a data da visita de retribuição da presidente Dilma Rousseff a Barack Obama – ela ocorreria em 2012.
Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.