Correio da Cidadania

Estados Unidos e Brasil: ainda a reação nacional sobre a espionagem

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Países com poderio significativo se bisbilhotam de maneira cotidiana, tendo por objetivo gama variada de assuntos, a depender das circunstâncias. Com o súbito encerramento da Guerra Fria, especulava-se que a atenção das maiores potências se reverteria para tópicos comerciais, vez que a ascensão e a implementação da democracia neoliberal, defendida pelo Ocidente, seria inexorável em todo o planeta.

Assim, a parceria entre o setor público e o privado seria intensificada com a perspectiva de estar presente a datar daquela efeméride em um mercado global, ao incorporar o leste da Europa e parte da Ásia. Enfatize-se que governante algum iria admitir oficialmente entrosamento muito próximo com corporações nacionais.

Em 2013, denúncias de espionagem constante dos Estados Unidos emergiram nos meios de comunicação: apontados como alvos da cobiça ou da curiosidade dos norte-americanos, determinados governos reagiram, ao protestar de forma firme, mesmo sem esperar retratação de fato da Casa Branca. Um dos atingidos no escândalo foi o Brasil. A manifestação de indignação do Planalto seria nesse sentido contundente.

O tom veemente seria necessário até porque a popularidade da gestão trabalhista descia de maneira desabalada desde março daquele ano. Protestos nas cidades de porte haviam ocorrido contra o governo, por causa, a princípio, da qualidade insuficiente do transporte público e do preço da passagem cobrado por ele. Como há muito não se observava, jovens nas ruas reclamavam do descaso do poder público com este segmento - http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/08/1325198-apos-cair-pela-metade-aprovacao-a-governo-dilma-volta-a-crescer.shtml  

Diante disso também, utilizar a política externa para revigorar-se era oportunidade ímpar para a administração federal. Afinal, o antiamericanismo costuma ser latente em vários setores da sociedade nacional, em função do papel negativo de Washington no continente durante a tensão bipolar.

O zênite da inquietação diplomática ocorreria na oitava cúpula do G-20, realizada em São Petersburgo, na Rússia, nos primeiros dias de setembro, quando os dois dirigentes americanos se avistariam.
 
Após a reservada sessão, Dilma Rousseff informaria que o titular da Casa Branca teria assumido plena responsabilidade sobre os infortúnios. À imprensa, Barack Obama disse que iria apurar os fatos desventurados.

A ideia de aproveitar-se do sério problema bilateral e auferir benefícios políticos dele, ao promover-se perante o eleitorado local, refletiu-se na declaração na época do ex-presidente Lula da Silva (2003-2010), por exemplo. Em reunião com parlamentares estaduais de São Paulo, ele se pronunciou do seguinte modo: “Cabe ao Obama humildemente pedir desculpas à presidente Dilma e pedir desculpas ao Brasil” - http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/09/lula-cabe-ao-obama-humildemente-pedir-desculpas-a-dilma-e-ao-brasil.html .

Na análise do experiente mandatário – o mais popular do atual ciclo democrático (1985-2018) – o país já se teria tornado ator de peso no cenário internacional e essa nova condição não seria do agrado dos estadunidenses, desejosos – ou quiçá saudosos - da manutenção do status de subalternidade. Apesar da afirmação não conectar-se com o quadro real das relações mundiais, seu efeito retórico seria inegável.

Com posicionamento similar, o Brasil iria sugerir à Organização das Nações Unidas (ONU) a regulamentação das atividades de captação de dados, mesmo que a proposta na prática fosse inaplicável. Contudo, a repercussão interna seria positiva, ainda mais em decorrência do recente desgaste originado das passeatas pelo território pátrio.

Outrossim, serviria como demonstração da capacidade imediata de reação da chancelaria perante eventuais abusos de grandes potências. Nas considerações brasilienses, o setor petrolífero teria sido alvo das bisbilhotices washingtonianas, por causa em essência da área do chamado pré-sal, de valor inestimável, situada a quase meio milhar de quilômetros da costa entre Espírito Santo e Santa Catarina.

 

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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