Correio da Cidadania

Estados Unidos e Brasil: preocupação com a política interna

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Encerrado o oitavo processo eleitoral do recente ciclo democrático, será preciso aguardar se o novo, conforme apontam os meios tradicionais de comunicação, se firmará ou se será fenômeno midiático circunstancial, embalado pela crise econômica de meia década do Brasil.

Até o momento, confirma-se o desgaste sem dúvida das siglas desenvolvidas na era pós-1985, entre as quais a da socialdemocracia e a do trabalhismo, geradas a partir da região Sudeste, em especial São Paulo. Um e outro êxito estadual cá ou acolá representam sua sobrevivência restrita, balizada pela geografia e por singularidades locais, não expressão de diretrizes de fato nacionais.

Na virada do primeiro para o segundo semestre de 2014, Washington e Brasília tentavam superar o impasse advindo do monitoramento digital irregular estadunidense. A vinda do vice-presidente Joe Biden ao Brasil seria medida simbólica importante para pôr em dia o relacionamento diplomático, com a proposta de cooperação cibernética, não de suspeição.

A expectativa ocasionada pela chegada do mandatário norte-americano seria o anúncio de que o Planalto não seria mais objeto da espionagem da Casa Branca, por integrar o rol dos países aliados na América Latina.

Consumada a proximidade, a pauta bilateral centrar-se-ia em questões globais de longo prazo como a constante oposição ao terrorismo fundamentalista e a preservação do meio ambiente – o vindouro Acordo de Paris em 2015 e a diversificação de combustíveis, ao cogitar o uso do etanol da cana e da energia nuclear.  

Prova do distensionar regional concernente a governantes menos conservadores teria sido a viagem do presidente do Uruguai, José ‘Pepe’ Mujica, em maio do mesmo ano aos Estados Unidos. Em junho, seria a vez da dirigente chilena Michelle Bachelet.

Às autoridades latino-americanas, havia o interesse econômico, ainda em vigor, de regras mais benevolentes a seus esperançosos cidadãos emigrantes, de cuja vigorosa capacidade de trabalho costumavam se beneficiar os estadunidenses.

Como contrapartida, os residentes no exterior poderiam ampliar a capacidade de enviar divisas a parentes e amigos, com o fito de investir em negócio próprio ou de poupar com o propósito de assegurar eventual aposentadoria no possível retorno a sua terra.

De uma perspectiva política aos mandatários sul-americanos avaliados como à esquerda, existia o desejo de incorporação de Cuba à rotina diplomática. Deste modo, significava encerrar o embargo aplicado à ilha caribenha desde 1960, ponto de tensão entre Moscou e Washington durante a Guerra Fria.   

Outrossim, eles desejavam a diminuição da pressão sobre a descendente Venezuela, impossibilitada de satisfazer as aspirações socioeconômicas da população, em função da incapacidade administrativa do governo de matiz bolivariano. Aos olhos da Casa Branca, Miraflores descolava-se da democracia e aproximava-se do autoritarismo.     

Com o comércio amero-brasileiro próximo dos cem bilhões de dólares anuais, a Casa Branca aspirava a reforçar a parceria, em vista das obras dos aguardados jogos olímpicos no Rio de Janeiro e do fluxo de estudantes universitários do programa Ciência sem Fronteiras.

Além disso, o Brasil compunha a trinca de ouro do turismo em território norte-americano, vez que mais de dois milhões de seus nacionais haviam andarilhado lá em 2013.  

Diferentemente dos europeus e japoneses, com bom acesso interno a produtos de qualidade por preços avaliados como razoáveis, os brasileiros gastam na média bem em suas viagens, de maneira que não se podia ignorar o impacto das compras na Flórida ou em Nova York, locais de preferência de boa parte dos turistas.

Assim, encerrado o arrufo bilateral, poderiam os dois convergir a pauta econômica. Desta forma, o Planalto, contornado o problema na política externa, teria maior disponibilidade para dedicar-se à interna, objeto da preocupação da presidente Dilma Rousseff, por causa da reeleição.  

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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