Correio da Cidadania

Estados Unidos-Brasil: sem entusiasmo para movimentar-se

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2015 não foi ano de fácil trato para a gestão trabalhista em seu quarto mandato consecutivo; antes da crise política de intensa força, vinha-lhe a econômica, em face do pífio índice de crescimento do período anterior e do espectro da inflação a assomar as portas do Planalto, malgrado as generosas benesses tributárias concedidas a inúmeros setores da indústria desde 2011.

Na área exterior, o Brasil nem sequer conseguia impulsionar o Mercosul, ao ampliar o número de acordos como, por exemplo, com a União Europeia (UE).

Sem articuladores à altura das dificuldades avizinhadas, o governo federal iria definhar de modo célere, ao ser incapaz de propor novos alinhamentos no Congresso. Isolado, o Planalto não conseguiria manter a rotina administrativa a contento. Seria corroído a partir do seu próprio âmago, com o rompimento da aliança com o peemedebismo.

Nesse sentido, política externa não pôde ser prioridade para o trabalhismo, até por falta de aptidão da mandatária, diferente da de seu antecessor, cultor da denominada diplomacia presidencial. De toda maneira, o relacionamento com as principais potências não podia ser menosprezado de forma alguma, como no caso dos Estados Unidos.

Urgia, por exemplo, chegar a um consenso sobre a situação descendente da Venezuela, hoje em grau ainda mais delicado, ou de Cuba, último ponto inconcluso do rol da Guerra Fria na região, mas posto em pauta em dezembro de 2014 por Washington e Havana.

Com o propósito de se anular o efeito negativo da espionagem denunciada em 2013, visto que não houve escusas pela ilegalidade, a Casa Branca convidou o Planalto para visita de Estado, incomum desde 1995 – por coincidência, estava lá naquela época um presidente democrata, Bill Clinton.

O aparente desconhecimento da dirigente sobre as ações rotineiras dos principais países chegou ao ponto de esperar que os Estados Unidos se eximissem de bisbilhotar de maneira digital autoridades estrangeiras, como se tal prática pudesse ser admitida de modo público e, destarte, reorientada, com a finalidade de preservar determinados mandatários. Protestar de forma oficial era o correto, porém a consequência seria apenas retórica.

Diante da sinalização da Casa Branca do status do encontro bilateral, o Planalto preferia, a princípio, visita de trabalho por causa do calendário de Barack Obama – prévias internas do Partido Democrata.

A possibilidade antecipada de diálogo entre os dirigentes dos dois países mais representativos da região ocorreria na Cúpula das Américas, realizada no Panamá, em abril de 2015. Duas opções se reservavam a ambos: encarar seus arrufos frontalmente, como o da espionagem, e encaminhá-los para a solução na visita de Estado ou de trabalho no segundo semestre do ano ou tergiversar por meio de outras tratativas, ao ter como justificativa as relacionadas com a situação temerária da Venezuela ou de Cuba.

Caso fosse estabelecido o diálogo direto, uma possibilidade voltada para amenizar os efeitos da crise econômica nacional seria o de ampliar as exportações para os Estados Unidos e assim reduzir o déficit comercial.
Traria alento ao empresariado agronegocial e também à bancada ruralista e poderia mitigar o revés político, mas ao cabo de 2015 o país exportou menos para lá que no ano anterior - http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/comex-vis/frame-pais?pais=usa 

Enfim, enfraquecida de modo político, não restavam muitas opções de ação para a administração trabalhista.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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