Correio da Cidadania

Estados Unidos-Brasil: a pauta modesta para a reaproximação política

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O primeiro semestre de 2015 já seria bastante desgastante para a presidente Dilma Rousseff por causa dos crescentes rumores de sua possível precoce destituição, através de movimentos no Congresso Nacional por parte de sua própria base, a peemedebista. Os índices de aprovação popular da mandatária eram os mais baixos da sua gestão.

Impulsionar a economia, via estímulo às exportações, ser-lhe-ia um modo de recuperar-se perante a opinião pública e, desta maneira, de pôr de lado tentativas de antecipação de seu mandato ainda no primeiro ano.

Do ponto de vista externo, sua corrosão política ocorria também. Segundo a revista quinzenal Forbes, a dirigente figurava em sétimo lugar entre as mais influentes do globo em 2015 – em 2014, ela constou em quarto e em 2013 em segundo, sendo superada apenas pela primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Como nota de consolação, se consideradas tão somente as com cargo nacional de comando, ela teria sido a segunda - https://www.forbes.com/sites/carolinehoward/2015/05/26/the-worlds-most-powerful-women-2015/#625010e044ec.

Em sua possível visita aos Estados Unidos em junho de 2015, portas ao agronegócio podiam ser abertas em um dos maiores mercados consumidores do planeta: no segmento de carnes industrializadas, por exemplo, as vendas iriam melhorar naquele ano, apesar da queda do preço.

Assim, o Brasil conseguiria exportar quarenta por cento a mais, embora com um quarto de arrecadação maior - http://www.abiec.com.br/download/Anual-jan-dez-2015.pdf. Êxito obtido em solo estadunidense significaria também sucesso no Canadá e no México eventualmente.

A expectativa do bom entendimento entre Brasília e Washington era interessante para os dois mandatários: à trabalhista, por auxiliar desanuviar seu abatimento político e quiçá econômico em função da possibilidade de ampliar exportações e de reduzir o desemprego e ao democrata, por ajudar a solucionar uma pendência restante na América Latina, à exceção claro dos governos do arco bolivariano – Venezuela, Equador, Bolívia e de forma indireta Cuba.

Contudo, a região não era prioridade para a Casa Branca, voltada para a emergente Ásia, em particular para a chamada Parceria Transpacífica, oriunda de mais de meia década de negociação entre doze países, entre os quais México, Peru e Chile – nos alvores da administração Trump, janeiro de 2017, os Estados Unidos iriam retirar-se desse acordo de livre comércio.

Em termos geopolíticos, a atenção continuava concentrada no Oriente Médio e cercanias. O conflito civil na Síria, até hoje não encerrado, e a crescente atuação do Estado Islâmico lá e no Iraque preocupavam Washington diante da possibilidade do robustecimento do integrismo naquela área. Além disso, havia a ansiedade com o programa nuclear do Irã. Parlamento e Executivo divergiam sobre a melhor maneira de tratar desse tema.

Ante o exposto, preparava-se o cenário da ida da presidente aos Estados Unidos: apesar de não estar o país na prioridade da Casa Branca, o Planalto podia beneficiar-se no médio prazo em diversos segmentos: na cooperação militar, por conta da participação pátria na missão onusiana no Haiti; na educação superior, em vista do envio de milhares de estudantes a universidades norte-americanas; e na própria diplomacia, por reiterar seu caráter de mediador na América Latina, como no caso do retorno progressivo de Cuba à rotina regional, por exemplo.

Virgilio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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