Correio da Cidadania

Estados Unidos-Brasil: o périplo presidencial do trabalhismo a Washington

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Indicação de titular de embaixatura a uma grande potência, como os Estados Unidos ou a Rússia, por exemplo, enseja tirocínio por parte da chancelaria devido à necessidade do relacionamento cotidiano bilateral ocorrer com civilidade, haja vista a possível extensão do impacto do desdobramento de discordâncias políticas ou econômicas, ao se ter em mente gama de questões de determinado momento. Considere-se, de maneira hipotética, divergência profunda entre dois países no tocante à imigração ou ao meio ambiente, temas bastante delicados no período contemporâneo.

Identificação ideológica entre dois governos pode auxiliar a escolha do eventual representante diplomático, porém não se deve realçar muito o interesse particular presente e, por conseguinte, dispor em segundo plano a tradição do convívio dos povos em torno do qual houve a consolidação de valores forjados na convivência de gerações como autodeterminação ou democracia.

Além do mais, o designado, em caso de substituição ocasional em decorrência de desacordo significativo na relação bilateral, deve ser de confiança do Itamarati ou do Planalto, a ponto de seu remanejamento não desembocar em choramingas públicas ou em visível desgaste dos dirigentes maiores, ao constrangê-los perante a opinião pública pela sua insuficiência de rendimento ou sua incapacidade de atuação na missão para a qual ele havia assumido a responsabilidade.

Outrossim, diplomacia presidencial, a despeito do alarde por uns de ganhos políticos (momentâneos) bilaterais, é instrumento temerário porque em caso de desencontros entre governantes a possibilidade de reparo no curto prazo seria pequena e perdas de toda ordem para um país poderiam ser expressivas.

Entre o fim de junho e o início de julho de 2015, a mandatária Dilma Rousseff realizaria viagem aos Estados Unidos (Nova York, Washington e Califórnia) - adiada desde setembro de 2013 por causa do escândalo da espionagem norte-americana - com comitiva de quase uma centena de integrantes na qual figuravam dez ministros.

O principal do séquito seria acolhido na capital no complexo residencial denominado Blair-Lee House, outrora edificação de morada de vários políticos desde o século 19. Ele é local de permanência de parte dos hóspedes oficiais de importância e havia sido adquirido pela Casa Branca durante a II Guerra Mundial.

Apesar dos recentes arrufos naquela fase, o Brasil continuava a ser um dos maiores adquirentes de títulos da dívida pública estadunidense e a enviar de maneira maciça seus cidadãos a excursionar lá – Flórida, por exemplo. Os de lá, por seu turno, procediam de modo diferente, ao ter preferência secundária pelo território brasileiro (nem sequer entre os vinte mais visitados) - https://www.nytimes.com/2015/01/11/travel/where-will-americans-travel-in-2015-.html.  Todavia, os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro poderiam ampliar o interesse norte-americano em conhecer o país.

Com o controvertido programa Ciência sem Fronteiras, o fluxo médio de nacionais havia aumentado um pouco para os Estados Unidos, a despeito da reclamação de atrasos nos pagamentos por parte de instituições locais.

Cerca de um quinto dos galardoados brasileiros optava pela experiência acadêmica em universidades de lá. Malgrado os alegados problemas financeiros, o Planalto desejava estender a presença dos seus estudantes até com a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA).

Enfim, em meio à crise política interna ascendente, a gestão trabalhista tentava contorná-la, ao aproximar-se dos democratas do Norte, com o propósito de demonstrar prestígio, porém em vão, uma vez que dentro de meses seria inexorável o processo de destituição da presidente.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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