Correio da Cidadania

EUA-Brasil: sem efeitos expressivos da ida a Washington

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Chega-se ao último trimestre de 2019 com dois dos maiores partidos políticos locais concentrados na polarização de boa parte de suas militâncias, em especial as conectadas com as redes sociais digitais mais importantes.

Duas faces de um espelho no tocante à intolerância supostamente ideológica, uma vez que, a observadores moderados, são expressões potenciais de poder, não visões de transformação real, se consideradas as necessidades da maioria da população, atordoada e aflita com seis anos em que ocorre ou recuo do crescimento ou sua inexpressiva recuperação. 

Assim, há pouco espaço para o diálogo prosperar com o firmamento de tal toada, a despeito do prejuízo para a sociedade e do estremecimento das recentes fundações democráticas. Narrativas de cada um dos polos apresentam-se ao eleitorado emolduradas, sem possibilidade de ajuste.

A despeito do cansaço do povo com tais posicionamentos, ambos os lados não esmorecem na sua faina diária de provocar o adversário, ao invés de centrar esforços na solução de questões como as de emprego, transporte, saúde ou segurança pública. Apesar da pressão, a democracia resiste por meio dos defensores intransigentes da interlocução, bem cientes dos tempos sombrios da época da Guerra Fria.

Em meados de 2015, o governo definhava de modo célere a olhos vistos. Fraqueza econômica e debilidade política confluíam, sem que o Planalto se articulasse à altura do problema, de sorte que lhe restava apenas patinar.

Diante da ausência de coordenação ampla, o parceiro tradicional - o grosso do PMDB - afastava-se aos poucos, com a finalidade de convergir com outras agremiações, outrora de constante oposição parlamentar.

A visita de alguns dias aos Estados Unidos não interrompeu o desgaste da presidente Dilma Rousseff mesmo em julho, mês de recesso parcial em Brasília; na melhor das hipóteses, amainou-o, porém por breve tempo.

É possível, no entanto, que a ida a Washington tenha destacado o abatimento precoce da segunda administração trabalhista. Sem capacidade de orientar a articulação política, conforme demonstrado logo nas primeiras semanas com a fragorosa derrota na peleja pelo comando da Câmara dos Deputados, a gestão não dispunha de nenhum legado significativo para entusiasmar apoiadores – mesmo os mais recentes ou incautos - nem projeto transformador para aquele mandato, haja vista o perfil da equipe econômica.

Com a crescente e apressada corrosão do trabalhismo altiplano, a política exterior deslocar-se-ia para segundo plano, até por considerar-se encerrada questão da bisbilhotice digital com a Casa Branca em 2013.

Todavia, seria o segmento evocado com o propósito de persuadir a base local de que a ruína do governo tinha essencialmente origens externas, não pátrias também. Por não configurar a realidade plena, decorresse talvez a forma confusa de a dirigente expressar-se a seus aliados:

Nós sabemos que, a partir da segunda metade de 2014, (...) houve um fato importante no cenário internacional, que foi o colapso do preço das commodities. As commodities, elas tiveram, a partir daí, um desempenho que se acelera, inclusive, nesses últimos meses do início do nosso mandato. (...) Além disso, a crise internacional continua não esmorecendo, não é? (...) É o fato que nós, como governantes que somos, não podemos nos dar ao luxo de não ver a realidade com olhos muito claros - http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/dilma-rousseff/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-reuniao-com-os-governadores-palacio-da-alvorada 

Destarte, nem sequer o esperado deslocamento aos Estados Unidos, considerado como símbolo de renovação da aliança (bissecular) entre os dois países mais importantes da região, auxiliaria a reforçar o prestígio da governante. A datar daquele momento, a crise só se estenderia até desembocar no processo de destituição.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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