Correio da Cidadania

Estados Unidos: perspectivas para 2022

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Foto: Gage Skidmore from Surprise, AZ, United States of America

Em 2022, o Brasil registra seus dois séculos de separação formal de Portugal, sem muito a comemorar entre outros motivos por causa da desatenção do governo federal à pandemia do vírus corona, da persistência da desigualdade social, do desemprego alto, da inflação ascendente, da desassistência aos desabrigados pelas recentes inundações no Nordeste.

Em 1976, bicentenário da proclamação da independência dos Estados Unidos, o país vivia uma séria crise, em decorrência dos efeitos de anos de guerra contra o Vietnã, dos sucessivos reajustes expressivos do barril de petróleo e da sucessão inesperada de Richard Nixon por Gerald Ford na Casa Branca, depois de investigados pelo Congresso desvios de conduta – Spiro Agnew havia renunciado à vice-presidência antes do próprio presidente por problemas com a Receita Federal e com o Ministério Público Federal.

Em 2022, Washington ainda se deparará com adversidades da pandemia, dada a resistência de parte significativa da população em imunizar-se, apesar da disponibilidade de doses de mais de um tipo de vacina, fruto do posicionamento de tratar a questão virótica como política de Estado, não de governo. Diferente da lamentável postura do dirigente brasileiro, nem Trump, nem Biden menosprezaram o desenvolvimento de imunizantes no território norte-americano e sua distribuição célere ao alcance dos habitantes.

No final de dezembro de 2021, o projeto de lei – Reconstruir Melhor - destinado a melhorar a infraestrutura e ampliar a assistência social no país havia sido aprovado na Câmara, mas não avançou no Senado por ausência de apoio de parlamentar do próprio Partido Democrata, eleito pela Virgínia Ocidental – Joe Manchin. O alvo da legislação é basicamente amparar a classe média.   

Outra dificuldade a ser encarada pela administração democrata é a demora do Senado, composto por metade republicana, em sabatinar os indicados da Casa Branca a funções de abrangência ministerial a autárquicas. Mais de mil e duzentos indicados do Executivo necessitam da ratificação senatorial em uma das comissões da instituição, de acordo com a organização não governamental Partnership for Public Service (PPS).

O adiamento em analisar nomes apresentados não só embaraça politicamente o governo, como limita sua atuação em áreas fundamentais. De acordo com a PPS, Obama e Bush Jr. obtiveram no primeiro quarto da gestão a aprovação de cerca de quatrocentas pessoas, ao passo que Biden e Trump giram em torno de duzentos e cinquenta.

O retardo da análise dos designados a inúmeras funções contribui para desestimular o encaminhamento de outros aspirantes. Por exemplo, a embaixada do Brasil encontra-se sem titular desde julho último, quando da exoneração de Todd Chapman, cujo processo de aprovação para o cargo havia levado quase quatro meses entre a indicação e a confirmação – outubro de 2019 a fevereiro de 2020.

Na política externa, encerrada a presença no Afeganistão após duas décadas, malgrado a forma atrapalhada de retirada, Washington mira Pequim e, em menor escala, Moscou. A pujança comercial chinesa reflete-se no desenvolvimento tecnológico ombreado com o norte-americano e em aspirações geopolíticas em torno das quais Formosa tem papel simbólico para a representação da nova fase do poderio do país no continente asiático.

Contudo, na moldura principal, vislumbra-se o desconforto da Casa Branca com a ascensão econômica sem par da sua rival em todo o globo, ao influenciar até aliados tradicionais como países sul-americanos ou africanos.

Embora em ritmo menor, os russos aventuram-se também, a fim de desviar de modo parcial a atenção de seus problemas internos, para uma quimérica recomposição territorial dentro da qual a Ucrânia teria meritório significado. No quadro, há a antiga insatisfação sem rodeios do Kremlin com a cooptação de suas antigas repúblicas ao tempo soviético para a integração com a União Europeia (UE) ou com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em especial as de terras caucasianas.      

Com o desemprego em queda, conquanto a inflação, não, os Estados Unidos têm perspectiva melhor para 2022 se comparada com a do ano predecessor, porque há melhor compreensão sobre o flagelo dos efeitos da disseminação do corona, menor desgaste militar no exterior e maior esperança sobre a recuperação da economia.

Com isso, os democratas têm a expectativa de manter a vantagem na Câmara dos Deputados e talvez obtê-la no Senado quando ocorrer a chamada eleição do meio do mandato (presidencial) a datar do segundo semestre.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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