Correio da Cidadania

Estados Unidos: dificuldades para Joe Biden no segundo ano de mandato

0
0
0
s2sdefault





Janeiro de 2022 assinala a lamentável efeméride de um ano da invasão do Congresso por militantes de extrema direita identificados politicamente com Donald Trump, derrotado nas urnas em novembro de 2020. Houve vários feridos e mortos em um acontecimento inesperado em solo estadunidense. De maneira consistente, a polícia federal (FBI) investigou ao longo de meses os participantes do ataque ao parlamento e propôs o indiciamento de duas centenas de pessoas.

A tentativa de desestabilizar a democracia mais antiga do continente malogrou e destarte desestimula iniciativas similares, embora em outros países da região, como no Brasil, a tentação autoritária, associada ao populismo, persista, a despeito de discursos de teor ilusório de defesa da liberdade ou da proteção da população de eventuais desmandos do Estado.

Joe Biden enfrenta três desafios difíceis já no alvorecer do ano: o recrudescimento dos casos do vírus corona, em parte devido ao desinteresse de parcela dos norte-americanos de receber o número adequado de doses de vacina, apesar dos esforços do governo em disponibilizar mais de um tipo de imunizante – ao menos, acima de sessenta e cinco anos, a proteção vacinatória está em torno de noventa por cento .

A taxa de inflação anual em patamar inédito desde 1982, ao atingir sete por cento, ainda que inferior à do Brasil, superior à dos dez por cento – a meta estimada para 2021 havia sido de dois por cento. Uma forma cogitada de enfrentar a subida é a elevação dos juros pelo Banco Central (FED) com o propósito de conter de modo temporário o consumo, uma vez que a instituição bancária acredita que o nível deverá recuar em breve. A contribuição para o índice ascendente decorreu da alta do petróleo e gás, veículos, em especial os usados, e alimentação.

Notícia alentadora para a Casa Branca é a redução contínua do desemprego, mesmo com a disseminação do vírus corona, apesar de o número de vagas ter sido menor que o aguardado em dezembro.  De toda sorte, o percentual situa-se abaixo dos quatro por cento, próximo do padrão do biênio anterior, ou seja, do estágio anterior à pandemia.

Por último, com vistas ao fim do corrente ano, há no país as chamadas eleições do meio do mandato, período no qual há renovação total da Câmara dos Deputados e parcial do Senado e de governos estaduais. O repto para os democratas é estimular os votantes a comparecer às urnas, dado que isso não é obrigatório. Embora a participação em 2020 tenha sido a mais representativa em três décadas – superior aos sessenta por cento – o pleito intermediário não costuma ter grau de presença parecido. Em 2014, por exemplo, ficou abaixo dos quarenta por cento.

Como decorrência, o Partido Democrata tenta aproximar-se legislativamente de segmentos da população menos comparecentes às urnas, de maneira que possa manter a maioria, malgrado estreita, no Congresso. Os projetos de lei em andamento desejam restringir o poder de deliberação dos estados em matéria eleitoral, tais como votação pelo correio, tipo de alistamento, financiamento de campanhas etc..

O objetivo da federalização de determinados aspectos do processo é propiciar melhores condições para a participação da sociedade, desanimado por vezes por causa dos entraves, variáveis, por sua vez, em cada um dos cinquenta integrantes da União: os obstáculos podem ir da documentação exigida no alistamento até a demora no momento de votar, por causa da disponibilidade reduzida de seções eleitorais. Em nome da autonomia estadual, os republicanos opõem-se à proposta de modificação.    

Todavia, a alteração da legislação beneficiará os democratas apenas se a Casa Branca superar a questão sanitária e a econômica de forma simultânea e em pouco tempo. Portanto, são dois tópicos nos quais o êxito ou o insucesso dependem da atuação do governo de Biden, não da oposição de Trump e vinculados.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
0
0
0
s2sdefault