Correio da Cidadania

Estados Unidos: provocação via expansão da OTAN

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Foto: Joe Biden em reunião na OTAN - imagem ilustrativa. Reprodução OTAN / Flickr

Enquanto a disseminação do vírus corona amplia-se em parte do mundo a olhos vistos, vide o próprio Brasil, Estados Unidos e Rússia preocupam-se em demonstrar firmeza sobre o destino da soberania da Ucrânia. Esta contenda revive ao planeta a tensão da bipolaridade do século passado, mas em escala menor até o momento porque nem a Casa Branca, nem o Kremlin têm a credibilidade ou o prestígio político de outrora.

Uma justificativa para o embate entre ambas as potências naquela localidade europeia seria demonstrar a possibilidade de poder (militar) em larga extensão e, por conseguinte, impressionar a sociedade internacional.

Washington aspira à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o leste da Europa, ao abarcar Kiev, algo rejeitado por Moscou, desejosa de zona tampão como constante desde a época da Guerra Fria.      

No primeiro mandato de Boris Yeltsin, bastante celebrado pelo Ocidente, houve a fragmentação territorial acelerada, com o reconhecimento de catorze nações, entre os quais a Ucrânia, independente a datar de 1991.

Com a chegada de Vladimir Putin ao poder, o processo de desdobramento interrompeu-se e o governo ambicionaria uma recomposição, mesmo parcial, sob inúmeras dificuldades por causa do descontentamento dos povos contemplados. Política costumeira de identificação nacional seria idioma ou religião. No período bipolar, o processo de ‘russificação’ em jurisdição soviética ampliou-se, ao ter em vista a prevalência do Kremlin.

Malgrado a extinção da União Soviética, perduram ainda os efeitos daquele processo de prevalência, de maneira que há disputa entre Rússia e países fronteiriços sobre quem seria de fato russo ou no mínimo culturalmente ligado a ela. Na visão do Kremlin, cerca de trinta por cento da população ucraniana encaixar-se-ia na definição usual.

A celeuma entre as duas potências intensifica-se desde o início de 2014 quando foi defenestrado o dirigente Viktor Yanukovych, próximo da Rússia. A retaliação, sob manto nacionalista, seria a retomada da Crimeia do país, doação de Nikita Khrushchev em 1954.   

Depois da recente anexação, secessionistas no leste da Ucrânia obtiveram maior robustez em seu pleito. Ante a possibilidade de redução do território ou mesmo de autonomia, o governo ucraniano recuperaria o projeto de compor a OTAN, em função de aprovação prévia (2008).

O temor de Kiev deve-se ao fato de que em 1994 ela havia renunciado ao seu arsenal nuclear, herdado da dissolução soviética, em troca do compromisso de Moscou de não invadi-la. Contudo, com a perda da Crimeia, o receio voltaria, embora negociações bilaterais se mantivessem em curso por causa do Protocolo de Minsk, de 2015, primeiro promotor de trégua entre separatistas pró-Rússia e forças armadas locais.  

A datar do ano passado, a movimentação de tropas de ambos os lados tem sido maior. Os norte-americanos também têm deslocado efetivos para países próximos da região. Na presente semana, aguarda-se reunião do Quarteto Normandia - Rússia, Ucrânia, França e Alemanha - com o propósito de interromper a marcha da confrontação. Que Paris e Berlim consigam apaziguar o ânimo belicoso de Moscou e Washington.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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