Correio da Cidadania

Rússia e Ucrânia: a disputa também na informação

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Mapa: Viewsridge / Commons Wikimedia

Com três semanas de conflito em território ucraniano, há a divulgação maciça de informações dos dois contendores, embora de maneira desigual, com o propósito de manter o moral, de um lado, da sociedade agredida e, de outro, do exército invasor.   
     
Na face ocidental, ocorre a difusão de baixas significativas das forças armadas ocupantes somadas à da destruição da equipagem, como a de aeronaves ou de tanques de última geração, enquanto na russa a propagação da conquista de cidades importantes. A um, a demonstração heroica da resistência do povo ao agressor, ao passo que ao seguinte a apresentação da inexorabilidade do avanço dos contingentes.

Na Ucrânia, a correta atenção no drama cotidiano, ao mostrar o sofrimento da população civil de modo individual, se possível, no rosto angustiado de crianças, mulheres, idosos etc; na Rússia, a concentração na atuação das tropas em si, sem personificar seus efetivos, ou seja, realçá-las no esforço como bloco indiviso.   

À medida que a confrontação se estende geograficamente, os Estados Unidos (EUA) revestem-se de maior cautela na ação de apoio direto à Ucrânia, ao limitá-la de início a víveres e a dinheiro, malgrado com ousadia crescente na retórica, ao cerrar fileiras em torno das fronteiras da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

A estes parceiros castrenses, estimula a Casa Branca o envio de armamentos cujo destino seria Mariyinsky; desta forma, isenta-se de responsabilidade direta quanto ao envolvimento na disputa, como embaraça seus aliados – Varsóvia, mesmo sem de início aceitar o papel de entregador, registrou bombardeios do inimigo Kremlin próximos de suas franjas com a Ucrânia.    

O tempo será o elemento decisor da guerra: sanções do Ocidente enfraquecem política e economicamente Moscou à proporção que a restrição à utilização da infraestrutura, como energia, telefonia, água e rodovias, debilita bastante Kiev, desesperança Bruxelas e agasta Washington.

Alarmados com o choque perto de suas fronteiras, países da Europa encontram-se desnorteados sobre qual postura deveriam adotar: a particular, via seu próprio organismo, a União Europeia (UE), ou a abrangente, pela OTAN ou mesmo pela Organização das Nações Unidas (ONU), de feitio mais diplomático.

A profusão de informes acerca da desequilibrada contenda russo-ucraniana aumenta a inquietude de quem acompanha o desdobrar diário, em função da intensidade da divulgação de relatos, nos quais proliferam versões contraditórias, e da ausência de alvíssaras no curto prazo:

Vislumbre-se, portanto, o drama dos habitantes de localidades sitiadas pelos contingentes russos, em decorrência da perspectiva da privação gradual de alimentação, calefação, água potável, energia elétrica etc. É tática com o propósito de quebrantar os ânimos do povo ucraniano com a expectativa de investidas a qualquer momento.
     
No presente, aliados dos dois países reverberam rumores vezes sem conta: o primeiro, agredido, teria potencial armamentista biológico ao passo que o segundo, agressor, químico. A ambos, atribui-se a adesão de estrangeiros para combates vindouros: cidadãos da esfera otaniana contra russos e sírios contra ucranianos.  

Por fim, a par dos boatos disseminados, os dois governos dispõem de unidades/divisões digitais, sob égide de repartições de cariz militar ou espião, voltadas para atrapalhar o funcionamento de meios de comunicação, públicos ou privados, via invasão aos sistemas, ou para minimizar ou ampliar o impacto mediático de eventos como ataques a cidades ou embates entre tropas, por exemplo.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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