Correio da Cidadania

Rússia e Ucrânia: mercados e sofrimento do povo

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Foto: Operação do exército ucraniano no leste do país. Créditos: Ministério de Defesa da Ucrânia – Commons WikiMedia / Creative Commons.

As esperanças de um cessar-fogo encorpam-se, à proporção que a devastação da ação militar da Rússia, iniciada em 24 de fevereiro, na Ucrânia amplia-se. O número de refugiados – constituído de idosos, crianças e mulheres - aumenta e o de deslocados também, chegando aos milhões. O Brasil acolheu menos de mil deles até a semana passada.

Sem vias humanitárias apropriadas, a logística do governo local e de organizações não governamentais para atender à crescente população desvalida complica-se sobremodo, malgrado a condição climática ser menos desfavorável, por causa da primavera.

Bem mais distantes do cotidiano das sociedades, os mercados concentram-se durante o conflito nas variações de preço tanto em energia como em alimentos, não nas sofridas populações, ao ter em vista o peso de Moscou e de Kiev na produção e distribuição mundial de tais itens.

No início de março, a cotação do petróleo ascendeu ao maior patamar de quase uma década e meia. A expectativa é até o final do presente mês retomar-se o preço ao padrão anterior ao do início da confrontação – abaixo dos cem dólares o barril tipo Brent.

Por ser um dos três maiores extratores do planeta, o Kremlin consegue influenciar o valor do produto, porém de forma limitada se comparado ele ao poder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), agremiação de catorze nações. No entanto, modifica-se esta situação na Europa com o gás natural por ter o continente como sua grande fornecedora a própria Rússia.
 
Concernente à Mariyinsky [o ‘Kremlin’ ucraniano], a preocupação vincula-se ao fornecimento constante do trigo e do milho, cujos valores nos primeiros dias do atual mês elevaram-se muito, por situar-se ele entre os cinco mais expressivos cultivadores do mundo; contudo, a cotação destes cereais sinaliza redução nas aquisições futuras.

Enquanto isso, a disputa continua, com o avanço russo em pontos estratégicos do país sendo considerado lento segundo a maioria das análises dos meios de comunicação tradicionais. Todavia, chame-se a atenção para a especulação em torno de quais objetivos teria o presidente Vladimir Putin, uma vez que não houve nem a divulgação (oficial) por Moscou, nem a revelação (oficiosa) por Kiev, Bruxelas (União Europeia), Pequim ou Washington.

Assim, não se tem certeza se a Rússia deseja incorporar de modo definitivo novas parcelas do território da Ucrânia como zonas portuárias – Odessa - ou energéticas – Chernobil e Zaporíjia – por exemplo, ter reconhecida a independência de determinadas áreas como as Donetsk e Lugansk ou esposar as duas alternativas de maneira simultânea.

A resistência de Kiev e o ânimo de Moscou influenciarão o contorno do pós-guerra – a propaganda aponta que o invasor teria perdido milhares de homens, mas sem mostrar grandes grupos de prisioneiros ou de desertores. As estatísticas variam de meio milhar a quase quinze mil mortos de efetivos russos.

Apresentam-se um e outro à imprensa ou TV com declarações contrárias à investida e, por conseguinte, ao governo moscovita, a despeito da controvérsia originada .

O lado agressor também não tem disponibilizado informações pormenorizadas acerca dos eventuais aprisionados nos combates. Nenhum dos dois contendores aponta onde se localizariam os centros provisórios de detenção e qual o tratamento destinado a eles.     

Passam-se os dias, Washington pressiona Pequim a assumir a parte ocidental; entretanto, ela acautela-se diante da perspectiva de ter de posicionar-se de forma incisiva sobre o litígio. Nesse desdobrar diariamente dramático naquela região da Europa oriental, a possibilidade de paz fica no ‘vai-não-vai’. 

 

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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