Correio da Cidadania

Rússia e Ucrânia: tentar a paz

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Foto: Russos protestam contra a realização da guerra na Ucrânia. Silar / Commons Wikimedia.

Próxima dos dois meses de duração, a invasão da Ucrânia pela Rússia chega a um impasse porque avanços e recuos das duas tropas são lentos, embora isso não impeça a ampliação constante do número de feridos, mortos, deslocados e refugiados.

Milhares de vidas em uns, milhões de pessoas em outros; o sofrimento da população ucraniana é bastante extenso sem que os organismos internacionais, apesar da correta reprovação da Organização das Nações Unidas (ONU), ou as grandes potências consigam ter êxito, mesmo temporário, em interromper a marcha da guerra a partir de Moscou.  

De maneira paralela, os meios de comunicação tradicionais especulam sobre a data do possível encerramento da confrontação ou no mínimo sobre o estabelecimento de cessar-fogo: nove de maio, momento de celebração da extinta União Soviética (URSS) relativa à capitulação da Alemanha nazista em 1945.

As informações divulgadas pelos dois contendores contradizem-se no dia a dia, haja vista a dramática situação do longevo cerco a Mariupol, a despeito do alto grau de desenvolvimento de instrumentos de registro e de transmissão como satélites, o que permitiria cotejo mais preciso entre os dados espraiados.

Recorde-se de que os Estados Unidos (EUA) no início de fevereiro haviam alertado de modo público o mundo sobre a eventual ocorrência de ataque da Rússia à Ucrânia, em decorrência da identificação da movimentação maciça de tropas e de equipagem nas últimas semanas do ano passado nas fronteiras comuns.

Com o propósito de desestimular a iminente investida de Moscou contra Kiev, Washington aventou a aplicação de sanções econômicas contra o Kremlin, ao afetar o setor energético do país, elemento vital das exportações; no entanto, as medidas não seriam suficientes para impedir a execução da decisão de Putin.

Nem sequer o feriado religioso cristão, o da sexta-feira santa, suspendeu os combates ou serenou as divergências diplomáticas ao redor da necessária mesa de negociações. Até na Santa Sé, protestos políticos se manifestariam, uma vez que a responsabilidade de carregar a cruz na procissão – cessada por dois anos por causa da pandemia do vírus corona – havia sido dividida entre uma ucraniana e uma russa, servidoras de um hospital em Roma.

A simbologia da esperada reconciliação imaginada pelo Vaticano seria objeto de crítica de segmentos ucranianos, entre os quais a do próprio arcebispo-mor de Kiev – a maioria da população de lá é ortodoxa, embora exista nela católicos desdobrados em vários ramos. Logo após o começo do ataque, é importante lembrar, o papa Francisco havia condenado a ação russa, ao chamá-la de sacrilégio.

Por último, o primeiro-ministro da Áustria Nehammer avistou-se na semana passada com Putin; segundo ele, questionou de forma incisiva o dirigente russo sobre o andamento da guerra, uma vez que ele havia ido ao território ucraniano antes e constatado crimes militares.

Em seu relato, o mandatário moscovita crê na vitória ao tempo que manifesta desconfiança com países ocidentais. Com a inesperada e bem-vinda iniciativa austríaca, espera-se que as demais potências da região, como a Grã-Bretanha (GB), adotem postura similar, isto é, continuem a dialogar com a Rússia, porém sem meneios ou bajulações, ainda que uma por uma, a fim de não esgotar as opções diplomáticas da União Europeia (UE).

 

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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