Correio da Cidadania

Brasil: a independência esperada em 2022

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Foto: José Cruz/Agência Brasil.

Com dois séculos de independência formal à vista, a sociedade local desfruta do período adequado para meditar sobre o rumo do país nos próximos anos e escolhê-lo em poucas semanas ao adentrar na cabina de votação, ao ter em consideração o ciclo quadrienal da eleição presidencial ser o principal balizador das relações políticas brasileiras.

Diante disso, não há firme interesse entre as principais agremiações nacionais de traçar projetos viáveis de longo prazo de desenvolvimento e executá-los de modo integral, ou seja, ações de Estado, não de só de governo, suspensas aquelas por vezes em decorrência do tempo de implementação, custos ou ainda de descaso.

2022 não representa até o momento o debate em torno de programas exequíveis entre os dois grupos postulantes mais bem colocados nas pesquisas de opinião ao Planalto. Ambos nem sequer tratam a questão energética como tópico estratégico da nação em meio à crise ascendente gerada em boa parte pela ausência da composição política apropriada entre a necessidade socioeconômica do Brasil e o equilíbrio financeiro da estatal petrolífera.

A cotação média do litro da gasolina em solo nacional situa-se acima da de países como Estados Unidos (EUA), Rússia, mesmo em guerra há meses com a Ucrânia, Argentina, Chile e Japão, entre outros.

A corporação encontra-se entre as cem maiores do globo. De acordo com a Forbes, seria a única do Brasil a figurar no quadro. Se estendida a lista até as quatrocentas, o país teria seis apenas, três das quais bancos.   

O ponto de partida do presente ano não é a extensão de envolvimento de forças armadas ou desarmadas no processo votante, mas o de desalmadas, ao ter em foco a indiferença perante o acelerado e dramático crescimento da desigualdade social, por seu turno, exacerbado pela pandemia do vírus corona desde 2020 e também pela atual administração federal sem tom nem som – estima-se que quase quinze por cento da população pátria passe fome.

Desta feita, emerge como em 1989, 2002 e 2018 a variante luso-brasileira do messianismo, o sebastianismo, isto é, a combinação em grau variado de acalento e de saudade de um povo com imediatas necessidades identificado com um tempo distante menos sofrido avaliado hoje como quase ‘idílico’.

Pela primeira vez, confrontar-se-ão de maneira eleitoral dois representantes deste tradicional fenômeno, malgrado origens e formações distintas, em cenário de apuro econômico e de instabilidade política.

No correr da Guerra Fria, um era oriundo do setor industrial de São Paulo (SP) como metalúrgico no final dos anos setenta, com perspectiva do retorno da democracia e com desdobramento na via sindical, ao passo que o outro era proveniente do segmento castrense do Rio de Janeiro (RJ) como oficial do Exército na mesma época, com expectativa de continuidade da ditadura e com desemboque na associativa.

Com movimentações bastante diferentes a datar antes da denominada redemocratização em março de 1985 – a Nova República - ambos chegariam à função máxima do país com o intervalo acima de década e meia.

Registrada sem hesitação a diferenciação de procedência e de constituição partidária (PT x PDC; da fusão com o PDS nasceria o PPR) dos dois pretendentes ao Planalto, resta a inquietação relativa à proximidade da política econômica da gestão de ambos: neoliberalismo de tons não tão afastados.

Portanto, o desafio de 2022 não é somente o de substituição de dirigente – muito bem-vinda, aliás – contudo o de modelo de desenvolvimento duradouro. Eis o caminho para a aguardada autonomia de fato depois de duzentos anos!

 

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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