Guerra da Ucrânia: reveses reconhecidos
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- Virgílio Arraes
- 17/09/2022
Em intervalo de poucos dias, faleceram duas personagens marcantes da época da disputa bipolar: Mikhail Gorbachev, dirigente-mor da extinta União Soviética (URSS), e Elisabete II, rainha da Grã-Bretanha, a mandatária de maior longevidade da história de seu país, embora não da Europa, por pertencer a indicação a Luís XIV da França, coroado ainda no alvorecer da adolescência.
Posta a duração à frente do trono britânico - mais de sete décadas - os meios de comunicação ocidentais têm dedicado boa parte de sua programação nos últimos dias a reviver momentos de destaque da dinasta, ao mesclá-los com os da nação, e, de forma simultânea, apresentar seu sucessor, Carlos III, filho primogênito:
O período da era elisabetana abarca a administração de sir Winston Churchill, do Partido Conservador, até a da recém-empossada Liz Truss, também da mesma agremiação – durante seu reinado, os trabalhistas contribuíram com apenas cinco titulares, ao ser o último deles, Gordon Brown, titular do cargo há mais de um decênio.
Quer sim, quer não, chama a atenção a diferença na preparação das cerimônias fúnebres do representante russo e da britânica: em Moscou, em 3 de setembro, a do secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (1985-1991) nem sequer obteve o reconhecimento oficial – só o primeiro-ministro da Hungria se deslocou para a despedida.
Atarantado com o andamento – momentâneo na visão do Kremlin - desfavorável da Guerra da Ucrânia, Vladimir Putin não se dispôs a comparecer às exéquias, embora tivesse ido ao hospital prestar a derradeira homenagem à controvertida autoridade comunista;
Em Londres, em 19 de setembro, a da monarca (1952-2022) ocorrerá com pompa e circunstância, de maneira que contará com a presença de lideranças de três continentes ao menos, entre os quais a dos Estados Unidos.
No sétimo mês de conflito russo-ucraniano, Kiev comunica os primeiros reveses importantes de Moscou nos campos de batalha – região de Kharkiv, depois de avanços modestos em Kherson em agosto, onde celebra o retorno a sua soberania de áreas invadidas desde abril.
O impacto castrense desfavorável tem sido registrado pelo Kremlin, ao providenciar a substituição de comando e concentrar a retaliação imediata na infraestrutura civil – abastecimento de água e de energia - de modo que pressione nova movimentação interna da população e, por conseguinte, desencadeie problemas de auxílio humanitário ao governo local – recorde-se que a usina nuclear de Zaporijia encontra-se desligada por medida de segurança.
A despeito do notável avanço na recuperação de seu próprio território, o qual não seria possível sem a constante ajuda bélica dos Estados Unidos, conjectura-se quem dos dois contendores demonstrará a capacidade de manter contingentes em atuação contínua e, destarte, coagir o opositor a sentar-se à mesa, a fim de ratificar outro delineio fronteiriço.
De toda sorte, o desgaste à imagem da Rússia, leia-se da de Putin, é inegável: caso não haja êxito considerável nas próximas semanas nas frentes de combates, a inquietação na sociedade moscovita aumentará, apesar das restrições governamentais a redes digitais sociais no país, e contribuirá para influenciar o moral das tropas, incertas ainda sobre qual a principal finalidade da invasão em fevereiro.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.