Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: qual resposta da Rússia

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Grande explosão destrói parte da ponte que liga | Internacional
A Rússia, ao agredir a Ucrânia ao cabo de fevereiro, aparentava demonstrar capacidade de derrotar o adversário de maneira célere, ao absorver cerca de um quinto da região invadida em poucas semanas, onde boa parte da população seria filorrussa, e ao pressionar a substituição do presidente Volodymyr Zelensky por um dirigente russófilo, mesmo temporário, originado de suposto clamor do povo ou da imposição das forças armadas locais.

Sete meses e meio depois, o ponteiro do relógio circula de modo desfavorável a Moscou, ao encarar a continuidade em Kiev do mandatário ucraniano, sob respaldo do eleitorado e também dos países do arco norte-atlântico, e ao deparar-se com reveses substantivos nos campos de batalha, áreas incorporadas de forma recente por consulta aos moradores, em sua maioria de ascendência russa, ainda que sem reconhecimento do restante da Europa até pelo deslocamento forçado de milhões de moradores de lá.

Em 9 de maio último, quando da celebração anual da vitória da finada União Soviética (URSS) sobre a Alemanha nazista em 1945, o planeta aguardava a suspensão dos combates, porém, seria em vão a expectativa do público ao redor do globo.

Na versão moscovita, a justificativa da investida contemporânea em solo vizinho seria similar à de décadas anteriores, ou seja, a contenção da extrema direita em ascensão; por isso, a designação oficial de operação militar especial, apesar de o motivo alegado não ter sido aceito pelo sistema internacional, cônscio de que a questão principal se referia à anexação de terras fronteiriças, não à ideologia extremista.

No alvorecer de 8 de outubro, horas após a passagem dos 70 anos do mandatário Vladimir Putin, nova frustração aos olhos do mundo, embalada pelo registro de Oleksiy Danilov, secretário do Conselho de Defesa e de Segurança Nacional da Ucrânia, ao se expressar de forma sarcástica sobre a explosão de vários vagões-tanques na ponte de conexão entre Crimeia e Rússia, apontada como a maior da Europa.

Agora avariada, a caríssima estrutura, com quase vinte quilômetros de extensão, havia sido construída em 2018, com o propósito de ampliar a circulação entre os dois territórios e, assim, reforçar a legitimidade da incorporação de 2014 - https://www.dw.com/en/why-is-the-kerch-bridge-important-for-russia-and-ukraine/a-63379613.

Malgrado os infortúnios castrenses russos, a espera de cessar-fogo não assoma no horizonte, porque fora da esfera militar a tensão econômica continua, ao ter em vista o aumento planejado para novembro por grandes produtores do preço do barril do petróleo, após queda contínua do item desde meados de agosto - https://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=PET&s=RBRTE&f=W.

Ao invés de seguir a cantilena de livre mercado, nações extratoras, muitas das quais filiadas à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), aproveitam-se da dependência energética acentuada de sociedades europeias e asiáticas, em decorrência da aproximação do decréscimo da temperatura, a fim de robustecer suas reservas financeiras. De maneira indireta, a Rússia beneficia-se do posicionamento do organismo internacional, ao ser também um dos principais fornecedores.

De elevada preocupação, é a retórica do Kremlin, ao anunciar a possibilidade de retaliação nuclear caso seu território fosse alvejado. Com a destruição parcial da ponte crimeana, ápice de sucessivas desventuras nas últimas semanas, inquieta-se o planeta com qual resposta Moscou irá endereçar a Kiev, até por especulações de que o prosseguimento de Putin à frente do governo dependerá da vitória na guerra em andamento.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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