Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: apesar da ONU, o avanço dos combates

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Diante da corrente contraofensiva da Ucrânia, materializada graças ao apoio das potências amero-europeias com o fornecimento de armamentos de última geração, a Rússia dedica-se a retaliar o adversário com ataques direcionados a alvos civis de uma quinzena de cidades importantes, entre as quais a própria capital Kiev, preservada havia meses de agressões. Com isso, as forças armadas modificam a tática, ao intensificar o temor no povo em geral.

Segundo agências internacionais, a investida teria sido a mais intensa até o momento e teria sido resposta à destruição da extensa ponte de Kerch - situada a meio da anexada Crimeia e do tradicional território russo na semana passada - considerada estratégica quanto à logística do abastecimento das tropas e simbólica concernente à inadequada absorção da área de 2014.

Com a devastação parcial da infraestrutura ucraniana, desanima-se muito a população, haja vista o tempo requerido para recuperação, ainda que provisória, de estações de energia, por exemplo, e a insegurança em face da possibilidade de novos ataques às mesmas localidades.

Isso se soma à preocupação anterior conectada com o anseio de funcionamento regular das usinas nucleares como a de Zaporíjia, cujas fontes energéticas passaram a depender de geradores a diesel, medida já de segurança.

Com a progressiva alteração do clima nas próximas semanas, habitantes teriam dificuldade de permanecer com calefação limitada a poucas horas diárias em suas próprias residências, escolas, escritórios, quartéis, hospitais etc. – na área de segurança pública, imagine-se a instabilidade caso presídios não tenham condições de manter seus ambientes em determinada temperatura.

Com quase oito meses de duração, o confronto incorpora-se ao cotidiano da Europa, ao obrigar países da região a programar-se para o inverno com menor conforto a suas sociedades – menor suprimento de gás, devido à destruição de parte da estrutura do Nord Stream, classificada por Moscou como ato de terrorismo.

Como consequência da interrupção do envio do produto, a elevação dos preços no curto prazo tem sido inevitável. Na Grã-Bretanha, a situação é dramática para o povo, ao ponto de o governo, embora sob comando do partido Conservador, desejar subsidiar a tarifa - https://www.reuters.com/world/uk/uk-pm-liz-truss-set-out-bold-plan-tackle-energy-crisis-2022-09-07

Existe uma renhida disputa de cabo de guerra entre a Casa Branca e o Kremlin ao menos até novembro, momento da realização do pleito do meio de mandato – até sua ocorrência, a administração de Joe Biden almeja apresentar ao eleitorado descontente um trunfo mínimo na política externa, uma vez que com China – primazia sobre o destino de Formosa - e com Coreia do Norte – desenvolvimento do controvertido programa nuclear - as perspectivas de êxito imediato são menores.

Diante da aliança cada vez mais estreita da Ucrânia com Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), reforçam-se os laços militares de Moscou com Minsk, conquanto não se saiba se haveria manobras conjuntas na confrontação.

Por remate, a escalada castrense amplia-se, apesar dos esforços da Organização das Nações Unidas (ONU) de condenar desdobramentos da invasão, como os referendos de integração de quatro regiões, ao obter quase 150 votos, entre os quais de forma surpreendente o do Brasil – 35 países se abstiveram. Ao lado da Rússia e de Belarus, apenas se alinharam Coreia do Norte, Nicarágua e Síria - https://www.bbc.com/news/world-63237669.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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