Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: retórica agressiva russa

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Nos últimos dias, circularam notícias em torno da admissibilidade do emprego pela Rússia de artefatos nucleares contra a Ucrânia como resposta à ameaça considerada de maior gravidade na percepção moscovita, qual seja: o constante posicionamento adverso do Ocidente a sua investida contra o vizinho ao fim de fevereiro, ou seja, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), capitaneada por Washington e secundada por Londres, Paris e Berlim.

No entanto, Vladimir Putin desmentiu o possível uso de armamentos de tal jaez, posto que tenha expressado preocupação com a segurança da nação, em decorrência, em sua visão, da inclinação de dominação global dos principais países da faixa norte-atlântica.

Durante a Guerra Fria, a rivalidade amero-soviética mantinha-se limitada ou melhor contida por causa da quantidade de ogivas atômicas de ambos, fundamento da exterminação mútua e de efeitos arrasadores sobre a vida do próprio planeta.

Outrossim, não se podia desconsiderar o potencial de devastação de aliados importantes naquela época como o da França ou o da Grã-Bretanha na esfera da Casa Branca ou o da China na do Kremlin.

Nos dias correntes, descartada a expectativa de que o desconforto otaniano se materializasse em ação bélica imediata, girou a informação, sem comprovação documental, de que Kiev executaria um assalto nuclear, via míssil, e atribuiria a responsabilidade a Moscou.

Existe o temor bastante razoável de políticos e de acadêmicos ao redor do mundo conectado com a impossibilidade de demarcar a utilização de armamentos atômicos em disputa entre grandes potências. Uma vez acionados, seria na prática inviável interromper os lançamentos de centenas ou mesmo de milhares de ogivas. Destarte, países mantém vastos arsenais de sorte que se desestimule o opositor a lançar mão desse tipo de material bélico.

De toda maneira, a menção a armas de destruição em massa, ainda que o emprego não seja cogitado de fato, demonstra a dificuldade de encaminhar negociações bilaterais ou multilaterais eficientes. No começo da confrontação, representantes dos dois lados reuniram-se de forma direta mais de uma vez, embora de modo infrutífero. Posteriormente, Belarus e Turquia abrigariam encontros entre diplomatas russos e ucranianos, conquanto também sem êxito.

No final de abril, Antony Blinken e Lloyd Austin, titulares do Departamento de Estado e da Secretária de Defesa, foram a Kiev onde se avistaram com o presidente Volodymyr Zelensky. Lá, Austin declararia o desejo de enfraquecimento da Rússia ao ponto que ela não pudesse realizar operações militares como a da invasão da Ucrânia – https://www.wsj.com/articles/u-s-to-return-embassy-to-ukraine-boost-military-aid-blinken-and-austin-tell-zelensky-in-visit-to-kyiv-11650859391 

A datar de então, o auxílio castrense amero-britânico tem-se intensificado e já não há informes – ou ao menos a divulgação – de tratativas diplomáticas sobre as fronteiras. Desde outubro, os russos, por sua vez, ampliam ataques aéreos a cidades ucranianas ou a sua infraestrutura como estações de energia ao invés de zonas de combates.

Ao mesmo tempo, recolhem-se de compor o entendimento acordado em julho concernente à exportação de grãos de portos do mar Negro, fator de estabilidade da cotação mundial de determinados produtos. Isso tudo ainda sob os ventos do outono.


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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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