Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: a expectativa da China com o andamento

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A investida na Ucrânia infelizmente chega a um ano de duração: nenhuma potência conseguiu dissuadir até o momento a Rússia de continuar com a operação militar especial, eufemismo da justificativa da invasão ao vizinho.

A ocasional negociação - sem fundamento multilateral, via Organização das Nações Unidas (ONU) - distancia-se do eixo Moscou-Kiev enquanto a força - com amparo regional, via Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) - cresce e alarma governos do continente, haja vista a preocupação com a intensificação dos combates e com sua propagação.

De um lado, países como Estados Unidos (EUA), Grã-Bretanha e Alemanha solidarizam-se de modo apropriado com a Ucrânia ao passo que do outro China e Índia aproximam-se da Rússia, malgrado a argumentação apresentada aos meios de comunicação.

Há poucos dias, Pequim, Nova Déli e Pretória abstiveram-se de votar contra Moscou em palco onusiano. Todos eles integram o acrônimo BRICS - Brasília seria a exceção do facetado grupo no escrutínio em Nova York.

Seis nações, algumas das quais próximas da administração de Vladimir Putin por motivos militares, posicionaram-se de forma contrária ao teor da resolução: Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Mali, onde o Grupo Wagner atua de maneira oficiosa depois da saída dos contingentes da França, Nicarágua e Síria - https://www.bbc.com/news/world-africa-64555169.

No entanto, a resolução seria aprovada com larga margem favorável - 141 de 193 votos possíveis - ao condenar a postura agressiva do Kremlin ao tempo que invoca a retirada de suas tropas do território ucraniano. Com isso, endossa-se a proposta kievita de paz - https://www.dw.com/en/ukraine-un-members-endorse-resolution-to-end-war/a-64799465.

De modo simultâneo, o Brasil equilibra-se com dificuldade entre os dois polos em disputa, embora à proporção que os dias passem deverá ele inclinar-se a favor da faixa norte-atlântica por maior identificação política e por interesses comerciais.

À primeira vista, a coligação, mesmo informal, de cada uma das duas nações fronteiriças representa no plano ideológico antagonismo cortante, ao assinalar em uma ponta o liberalismo e na outra ao fincar o autoritarismo.

Destarte, o conflito apresentaria ao planeta a definição da marca da Europa a partir do leste: se a invasora fracassar, resguardar-se-ia a tonalidade democrática; se ganhar, ascenderia o tom ditatorial em vasta região ainda influenciada por ecos do conturbado período da União Soviética (URSS).

O eventual êxito do Kremlin não se resumiria à derrota de Mariyinsky, porém à da Casa Branca também, em função do maciço apoio estendido até agora ao país agredido. Como contraponto, caso ele malogre, o impacto atingiria Zhongnanhai, empenhado no sucesso russo.

De forma indireta, resultado negativo da confrontação para a Rússia influenciaria a movimentação da China com o propósito de incorporar de maneira gradativa Formosa, amparada pelos Estados Unidos, de sorte que o atual embate no leste da Europa pode ser o ensaio de outro a ocorrer no mesmo ponto cardeal, conquanto vinculado à Ásia.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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