Correio da Cidadania

Estados Unidos: improvável candidatura no Partido Republicano

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A disputa eleitoral norte-americana encontra-se em fervoroso andamento, embora a votação popular vá ocorrer em novembro de 2024. Aspirantes posicionam-se sem surpresas até o momento: do lado democrata, Joe Biden, natural postulante por ser o titular da Casa Branca; do republicano, Ron DeSantis, governador da Flórida, e Donald Trump, presidente entre 2017 e 2021.

É possível o surgimento de novos nomes viáveis nesse segmento; porém, caso se materialize a indicação de Trump, os Estados Unidos deparar-se-iam com característica incomum no pleito de 2024, em decorrência do perfil do pretendente, controvertido na breve vida pública e também na empresarial.

O ponto inicial se relacionaria com a ocasião de participar do processo eleitoral mais importante de novo, apesar de fracasso como o de 2020. Richard Nixon, conquanto derrotado no pleito de 1960 para John Kennedy, democrata, teria nova oportunidade, fator incomum.

Ele iria disputar o de 1968, onde se sagraria. Reeleito sem dificuldade em 1972, seria o primeiro mandatário norte-americano, no entanto, a renunciar ao cargo em agosto de 1974, após o impacto sobremaneira negativo de denúncias oriundas do episódio Watergate de junho de 1972.

O segundo, posto que não seja inédito, seria o de candidato outrora dirigente do país, como ocorrido com Ted Roosevelt em 1912 pela terceira via (Partido Progressista), depois de dois quatriênios (1901-1909) por agremiação republicana. O assento dessa representação havia sido destinado a William Howard Taft, naquele momento presidente, com votação decepcionante ao chegar em terceiro – Woodrow Wilson seria o vencedor.

O terceiro aspecto se vincularia a um candidato sob investigação: burlas fiscais durante a disputa eleitoral anterior, o de 2016, ao valer-se de forma eventual da rubrica de registros comerciais com o propósito de ocultar relação extramarital via pagamento. Não seria o primeiro investigado pelo Judiciário.

Em 1920, Eugene Debs, do Partido Socialista, encontrava-se encarcerado em uma penitenciária federal; porém, o motivo de seu aprisionamento distancia-se dos de Trump: ele havia sido sentenciado a uma década de prisão em setembro de 1918 por sedição.

Entrementes, Debs havia sido na prática processado por opor-se ao ingresso dos Estados Unidos na I Guerra Mundial. Nesse sentido, ele colocava-se em discursos contrário à convocação da juventude para o conflito, recrutada grosso modo na classe trabalhadora.

O quarto ponto se conectaria com mandatários submetidos a constrangimento político – por vezes, até pessoal – de possível destituição (impeachment) da função presidencial: Andrew Johnson e Bill Clinton, democratas, e o próprio Trump, ainda que seu segundo processo tenha sido depois da derrota na última eleição e, portanto, sem efeito consequente, uma vez que estava a poucas semanas da passagem de bastão para seu opositor, Joe Biden.

Enfim, se Donald Trump puder concorrer à Casa Branca do próximo ano, será uma participação insólita, haja vista a polêmica ao redor de seu legado. É factível que a ocasional candidatura do empresário seja apenas para inglês ver, ao não desfrutar de reais condições políticas para concorrer ao posto de maior prestígio do país.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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