Estados Unidos: derrotar a Rússia via Ucrânia
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- Virgílio Arraes
- 29/05/2023
A eleição presidencial de 2024 encontra-se já a caminho. Salvo imprevisto de força maior, os democratas têm candidatura firmada: Joe Biden, natural aspirante por ser o atual mandatário; os republicanos dividem-se por enquanto em três nomes: Donald Trump, Ron DeSantis e Tim Scott.
Diferente da maioria dos países, a política externa nos Estados Unidos tem impacto importante sobre o eleitorado. A guerra, por exemplo, afeta o posicionamento de segmentos da classe média, em decorrência da distribuição dos efetivos no estrangeiro e do período de permanência no teatro de combate por causa do risco de morte.
No tempo de hoje, a Casa Branca não se depara de maneira direta com confrontação de porte. Após o fracasso com Afeganistão e com Iraque, não há estímulo para novas investidas, a despeito do grau de divergência e, por conseguinte, de repúdio ideológico de nações à guisa de citação como Venezuela ou Cuba.
Afora os dois mencionados, os maiores adversários no instante corrente dos Estados Unidos são detentores de artefatos nucleares em escala ascendente: Coreia do Norte, China e Rússia. Destarte, um enfrentamento ocasional teria de ser na arena diplomática, não na militar, como ocorrido por duas vezes em solo médio oriental e adjacências na primeira década do milênio.
Como superpotência global, Washington não pode aparentar fraqueza à opinião pública, ainda que possa ceder em negociações. Moscou ser o oponente adequado do momento explica-se por sê-lo de maneira indireta.
Ao invadir de modo abrupto a Ucrânia no início do ano passado, a Rússia proporcionou aos Estados Unidos a oportunidade para fustigar o histórico rival sem necessidade de desgastar-se de forma frontal e por isso temerária.
Encarar o mais antigo rival desde o século vinte reaviva a memória da sociedade norte-americana acerca do imenso poderio do país como na Guerra Fria e ajuda a mensurar o prestígio nacional diante do planeta. Aflora na população a percepção de que Washington seria ainda a liderança mundial da democracia e da liberdade.
Desta forma, ao apoiar o envio contínuo de armamentos via Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a Mariyinsky, a Casa Branca pode calibrar sua quantidade de acordo com a intensidade dos combates entre as duas forças armadas, de sorte que contribui na regulação da fricção entre os acérrimos inimigos e, portanto, causa ao Kremlin enfraquecimento bélico e de maneira simultânea esgotamento político à administração de Vladimir Putin.
A Casa Branca, apesar do elevado drama humano dos dois contendores, não se apressa na solução da disputa porque o tempo desfavorece o Kremlin. Resultado negativo ao governo moscovita significaria a derrocada do grupo depois de dois decênios e meio à frente do poder e respeito ou mesmo fascínio à contraparte washingtoniana por ter colaborado para a derrota eventual.
Sobrepor-se à Rússia traria aos Estados Unidos a glória de vencer poderoso adversário pela segunda vez em pouco mais de trinta anos. De novo, sem embate face a face e deste modo sem corroer sua infraestrutura militar e seu bem estar, malgrado o sofrimento da Ucrânia.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.