Correio da Cidadania

Estados Unidos: a importância política da espionagem

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Transcript: NPR's Full Conversation With CIA Director William Burns : NPR
Grandes potências costumam investir em seus serviços de informações, em especial nos de ação externa como a Central Intelligence Agency (conhecida no dia a dia pelo acrônimo CIA) nos Estados Unidos, o Secret Intelligence Service (MI-6) na Grã-Bretanha ou a Direction Générale de la Sécurité Extérieure (DGSE) na França.

Por vezes, tais burocracias não se limitam a comunicar e a analisar a situação político-econômica presente do país onde inserem de maneira reservada seus agentes, ao elaborar quadros conjunturais possíveis no curto ou no médio prazo. Apesar de contínuos orçamentos vultosos, materializados em boa estrutura de trabalho, equívocos por eles acontecem.

Conforme lembra Hobsbawm, no capítulo oitavo de A Era dos Extremos, os Estados Unidos estimavam a economia da União Soviética com fôlego necessário para competir com a sua no segmento armamentista durante a década de 80, de modo que a rivalidade entre as duas superpotências persistiria no horizonte por muito tempo. Contudo, ela ruiria em poucos anos.

Por outro lado, eles acertariam a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, a despeito da incredulidade de boa parte das elites da Europa de presenciar uma guerra no continente. Quando os tanques moscovitas ultrapassaram as fronteiras, a descrença se alteraria para o pavor.

Outrossim, podem eles ir além da interpretação da realidade, ao intervir no cotidiano de outros povos sob justificativa de preservar interesses do próprio governo ou das multinacionais: a afamada Operação Ajax, ocorrida no Irã em agosto de 1953, exemplifica isso.

Norte-americanos e britânicos haviam intercedido em desfavor do primeiro-ministro do Irã, Mohammed Mossadegh, em decorrência de diretrizes energéticas firmadas meses antes, contrárias a petrolíferas estrangeiras instaladas lá. Duraria um quarto de século a estreita proximidade entre Teerã e Washington até a emergência da Revolução Islâmica em janeiro de 1979.

Sem a desinteligência amero-soviética, especulava-se que a atuação das agências se transformaria bastante, ao deslocar seu eixo da política para a economia e do estatal para o privado. Com isso, temas como o de espionagem industrial teriam tratamento maior do funcionalismo público, haja vista a mudança da competição global: da ideológica dual para a comercial plural.

Todavia, a nova ordem mundial não iria corroborar tal expectativa: a preocupação com a movimentação das nações permaneceria. Assim, a Casa Branca continuaria a disputa com o Kremlin e com os Palácios do Mar, ainda que sem se balizar pela dicotomia capitalismo-comunismo.

O prestígio administrativo do sistema de vigilância nos Estados Unidos se apresenta com vigor na atualidade; na última semana, Joe Biden convidou William Burns, diretor da CIA, para integrar o gabinete presidencial. É a segunda vez na história do país – a primeira havia sido na gestão de Donald Trump.

A corrente designação decorre da influência de Burns não só da presciência do imprevidente ataque da Rússia, porém de sua interlocução mano a mano tanto com Vladimir Putin bem como com Volodymyr Zelensky.

Demonstra, portanto, a crescente importância da política exterior no funcionamento do alto escalão da Casa Branca e, desta forma, no preparo do processo de reeleição do dirigente democrata no próximo ano diante do extremismo republicano.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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