Estados Unidos: lançam-se os dados para Trump
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- Virgílio Arraes
- 15/08/2023
Getty Images
No próximo ano, os democratas já têm candidatura definida à presidência da República: a do próprio Joe Biden, a despeito do desgaste político derivado da investigação de sonegação de impostos federais do filho Hunter.
Rara a ocasião na qual o dirigente maior do país não concorre à reeleição – o último caso foi o de Lyndon Johnson em 1968 devido à corrosão crescente pelo fracasso na Guerra do Vietnã. A oposição ao conflito no continente asiático em nome do anticomunismo permeava com força até sua agremiação.
Destarte, a perspectiva de derrota ou de sofrida vitória nas primárias do partido faria com que Johnson desistisse de participar da disputa – em novembro daquele ano, o republicano Richard Nixon ganharia com dificuldade, ao superar seu opositor, Hubert Humphrey, por menos de um por cento entre o eleitorado.
Na corrente republicana atual, despontam dois aspirantes: Donald Trump, titular da Casa Branca entre 2017 e 2021, e Ron DeSantis, governador da Flórida. Ambos disputam os votantes mais conservadores do país por meio de posturas polêmicas, de sorte que a atenção dos meios de comunicação lhes garanta constante destaque perante a sociedade.
Trump, o mais controvertido dos postulantes, defende-se de dois processos na justiça federal: o mais grave se refere ao envolvimento em frustrado golpe de Estado em janeiro de 2021 ao passo que o outro se relaciona com a posse indevida de milhares de documentos do período quatrienal à frente da presidência. Investigações em outros pontos do território norte-americano encontram-se em curso, como as da Geórgia, relacionadas com o processo eleitoral de 2020.
Apesar do imenso constrangimento, Trump insiste em continuar sua marcha a Washington, ao alegar, em face do teor das acusações, perseguição política a ele. A legislação local não impossibilita candidato, caso condenado, a concorrer à maior função da nação.
Distante no momento da obtenção do apoio oficial de sua agremiação e mais ainda do êxito em novembro de 2024, o posicionamento do ex-mandatário desemboca em especulações ante o ineditismo da situação, ou seja, a de um eventual governante vitorioso no colégio eleitoral e, ao mesmo tempo, apenado pelo judiciário.
Com o propósito de impedir o exercício do mandato do futuro escolhido, o encaminhamento mais visível seria o da rejeição, porém em ambiente diferente do judicial: o parlamentar, ao levar o Senado Federal a avaliar processo de destituição.
Entrementes, a possibilidade de obter os votos necessários para o afastamento seria difícil até sob perspectiva de desgastar o próprio partido e, por conseguinte, de fortalecer seus adversários principais, os democratas. Além do mais, a legitimidade do vice-presidente poderia ser também questionada.
Descortina-se outrossim perspectiva inversa: a de que Trump teria de ser anistiado pelo Congresso, ao granjear dois terços das duas casas, a fim de exercer o cargo presidencial. O fundamento para barrá-lo seria derivado do teor da décima quarta emenda constitucional: o envolvimento comprovado em revolta, em questão a de janeiro de 2021.
Apresenta-se a Trump mais que nunca percalços entrelaçados de ordem política e judicial. Desta forma, está lançada a sorte da democracia norte-americana, ao caber à população decidir a qualificação esperada da titularidade da Casa Branca em 2024.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.
