Correio da Cidadania

Estados Unidos: reforçar a presença militar no Pacífico

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Getty Images

Conquanto concentrados no leste da Europa nos últimos meses, em decorrência da investida da Rússia sobre a Ucrânia, os Estados Unidos (EUA) não se desconectam do leste da Ásia, vasta região onde se identificam importantes aliados seus como Japão e Coreia do Sul e adversárias como China e Coreia do Norte.

Com o impasse militar na Guerra da Ucrânia, a Casa Branca procura aproximar-se do eixo nipônico-coreano, ao reiterar parceria trilateral em Camp David na semana passada e, assim, ofertar a sua opinião pública medida diplomática de peso.

Destarte, Washington contribui para a superação de históricas desavenças e, portanto, de longas desconfianças entre Tóquio e Seul – afinal de contas, não se pode esquecer dos efeitos deletérios da ocupação japonesa daquele país entre 1910 e 1945.

Guardadas as devidas proporções, os democratas de modo entusiasta compararam a corrente iniciativa à de Jimmy Carter quando havia convidado Anwar al Sadat, do Egito, e Menachem Begin, de Israel, em 1978 para debater problemas bilaterais oriundos desde a década de 50.

A negociação patrocinada pelos Estados Unidos desembocaria no galardão do Nobel da Paz aos dois dirigentes médio-orientais naquele ano. O enlace político desaguaria no Tratado de Paz entre as duas nações em 1979.

Em se concertando ao pé da letra a aguardada união trilateral, o presidente Joe Biden obteria o desenvolvimento de projetos de longo prazo castrenses e educacionais comuns na circunscrição do Pacífico. De maneira cautelosa, a sintonia afinada da trinca se justifica em prol do crescimento constante da ascendência de Pequim no continente, ao ir além dos pares tradicionais como a nuclearizada Pionguiangue/ Pyongyang.

O congraçamento das três potências conduz, por outro, à preocupação da China relacionada com futuro alinhamento de maior intensidade em sua adjacência. A comparação imediata da agregação seria com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), antípoda aos tempos da Guerra Fria da União Soviética (URSS) e hoje da Rússia.

Por conseguinte, caso ela seja materializada, seria preocupante, sem dúvida, para quem se dispusesse a contrariar o posicionamento norte-americano naquela área. Na prática, o tom inicial da manifestação, no entanto, seria despropositado, até em decorrência das dificuldades de compor posição de defesa comum com brevidade – constituição das unidades específicas, previsão orçamentária, aprovação dos parlamentos etc.

Ainda assim, o alarme propagandístico de embrionário organismo militar ajuda a reduzir os benefícios políticos colhidos por Washington com a realização do encontro de cúpula, ao realçar Pequim os aspectos bélicos, não os científicos ou os educacionais do entendimento trilateral.

Ao mesmo tempo, a visão de Pequim auxilia a mitigar críticas lançadas à intensificação das atividades bélicas dos opositores locais de Seul ou de Tóquio e à crescente dependência econômica concernente ao fornecimento de componentes eletrônicos miniaturizados às multinacionais das três potências capitalistas.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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