EUA: unir ou desunir o Partido Republicano ao redor de Trump
- Detalhes
- Virgílio Arraes
- 05/09/2023
No Partido Democrata, encontra-se definida a candidatura à Casa Branca em 2024: é a de Joe Biden – o costume do país é o presidente ser o indicado natural de sua agremiação à reeleição; no Republicano, há quase dez aspirantes, embora até o momento desponte um nome significativo apenas: o de Donald Trump, malgrado a polêmica em torno de sua trajetória.
Por conseguinte, os demais postulantes concorrem sob dupla provocação diária: diferenciar-se do controverso ex-presidente e ao mesmo tempo cativar seus simpatizantes. É desafio difícil de superar-se no curto prazo.
Ante o exposto, caso Trump, em decorrência dos inúmeros processos judiciais em andamento, não possa representar de maneira adequada sua sigla, seu eventual substituto terá temerária tarefa de envergadura: tentar conciliar o radicalismo ideológico expresso por boa parte dos filiados – muitos dos quais adeptos sectários do antigo dirigente – até o primeiro semestre do próximo ano, por causa do calendário das prévias, com a expectativa de gradativo abrandamento da visão de mundo partidária aos olhos gerais do eleitorado até novembro de 2024, data da votação.
Chama também a atenção aspecto da corrida eleitoral vinculado com o persistente desejo do ex-mandatário de retornar a Washington no cargo: uma ocasional condenação judicial em si não o impediria de participar do certame interno, apesar do imenso desgaste derivado dela.
Se escolhido pelos membros da grei republicana, Donald Trump poderia disputar com Joe Biden o pleito presidencial. Nos Estados Unidos, os votantes autoidentificados como republicanos ou como democratas são próximos numericamente, segundo pesquisa contemporânea - https://news.gallup.com/poll/15370/party-affiliation.aspx Constituiriam eles, no entanto, pouco mais da metade do eleitorado. O restante seria independente das duas denominações.
Diante do quadro hipotético da disputa de Donald Trump à Casa Branca, uma inquietante questão logo despontaria no horizonte: teria ele o apoio de fato dos competidores eliminados nas sucessivas prévias partidárias?
Entre seus opositores na agremiação, menciona-se a possibilidade concreta de o ex-presidente despender bastante tempo nos próximos meses em audiências de tribunais e em reuniões em escritórios de advocacia.
Se positiva a resposta do Partido Republicano para sua indicação, de que modo a sigla avaliaria o peso de sentença desfavorável a ele? Considerá-la-ia também política? Se sim, o fortuito candidato renegado pelo Judiciário seria tratado pelo próprio agrupamento como injustiçado, ou seja, como perseguido por círculos oficiais do poder.
Entre os seguidores entusiasmados de Trump, o impacto de sua episódica candidatura é bem impremeditável: sua recente foto prisional foi inserida em diferentes produtos comercializados com elevada rapidez e com vendas com cifras expressivas em poucos dias; estima-se o valor acima de sete milhões de dólares - https://www.politico.com/news/2023/08/26/trump-mugshot-fundraising-00113118 .
O extremismo dos admiradores de Trump pode assegurar-lhe sem dificuldades a vaga republicana, porém em seguida o natural repúdio democrata e outrossim o distanciamento da metade do eleitorado pertencente ao centro, no caso os independentes.
*Gostou do texto? Sim? Então entre na nossa Rede de Apoio e ajude a manter o Correio da Cidadania. Ou faça um PIX em qualquer valor para a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática; a chave é o CNPJ: 01435529000109. Sua contribuição é fundamental para a existência e independência do Correio.
*Siga o Correio nas redes sociais e inscreva-se nas newsletters dos aplicativos de mensagens: Facebook / Twitter / Youtube / Instagram / WhatsApp / Telegram
Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.