Correio da Cidadania

Estados Unidos: a jogada de Joe Biden contra a China

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US National Security Advisor Jake Sullivan Congratulates 100 Quad Fellows Confident Our Future Is In Good Hands: US Security Advisor Congratulates Quad Fellows
AFP

Há cerca de seis décadas, os Estados Unidos (EUA) ingressaram em um de seus mais longos conflitos: o do Vietnã. Em agosto de 1964, o Capitólio aceitou quase de modo unânime solicitação da Casa Branca relativa à adoção de medidas avaliadas como indispensáveis com o propósito de rechaçar ataques às forças armadas do país na costa do sudeste asiático: ela seria conhecida como resolução do golfo de Tonquim - https://history.state.gov/milestones/1961-1968/gulf-of-tonkin .

A poucas semanas da eleição presidencial, Lyndon Johnson preocupado com a forma por que o tema poderia ser abordado por seus adversários nos meios de comunicação e nos debates acreditava que a iniciativa teria o condão de dissuadir críticas intensas à condução da política externa.

Encerrada a disputa em novembro, Johnson, com a vitória, decidiria envolver o governo de maneira direta na contenda entre os dois Vietnãs, em decorrência da influência da teoria do dominó: se o do Sul ‘caísse’ nos braços do comunismo, o próximo seria o Laos; o seguinte seria o Camboja.

A elucubração incluiria até a Índia, cuja população caso somada à da China, comunista desde 1949, e às dos demais países recém-convertidos, faria da Ásia o continente vermelho. Portanto, caberia na análise de Washington a responsabilidade de interromper o processo logo no início; o resultado seria desastroso para todos os participantes, em especial para a sociedade vietnamita.

O começo da retirada dos contingentes dos Estados Unidos ocorreria em janeiro de 1973, depois da assinatura de tratado de paz. Desde então, a influência crescente na área seria mais da China, menos da União Soviética – basta recordar a investida de Pequim contra Hanói em 1979 em face da tentativa de maior avizinhamento com Moscou.

Já não é de agora, o Vietnã deseja reduzir sua dependência da China. Nos últimos dias, o presidente Joe Biden, ao aproveitar a cúpula do G-20, na Índia, se deslocaria até lá com a finalidade de firmar acordos econômicos.

A Casa Branca necessita para o pleito de 2024 de trunfo externo. Seria ele a princípio providenciado pelo eventual êxito na Guerra da Ucrânia, porém o impasse nos campos de combate entre efetivos de Kiev e de Moscou levaria à hipótese de confrontação de longa duração e, destarte, de consequência no curto prazo desfavorável a Washington.

A aproximação dos Estados Unidos com o Vietnã robustece o ideário de parceria estreita na região, postura considerada imprescindível para a contraposição ao progresso de anos recentes da China. Na prática, a Casa Branca vale-se de posicionamento assemelhado de Zhongnanhai: reforçar a presença nas adjacências do rival ideológico.

Em agosto, Washington reiterou o enlace econômico e, por conseguinte, político com Tóquio e Seul em reunião em Camp David - https://jp.usembassy.gov/trilateral-leaders-summit-us-japan-south-korea .

Isso sem descuidar ao mesmo tempo do aspecto militar no Indo-Pacífico como demonstra a configuração a partir de 2007 do grupo Diálogo de Segurança Quadrilateral, afamado pelo acrônimo QUAD. Congrega ele Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos em polo distinto da China.

Na Guerra Fria, ao ser o sócio de maior importância do capitalismo, Washington utilizava o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) com o objetivo oficial de auxiliar seus aliados, ainda que de fato fosse a de consolidar a esfera amerocêntrica.

Nos dias atuais, Pequim emprega de maneira similar o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (BAII) com o escopo de materializar sua própria trajetória de poder, ou seja, uma órbita sinocêntrica.

Aguarde-se nos meses vindouros se a corrente movimentação norte-americana no continente asiático resultará em prestígio ou desgaste. Sem dúvida, ela contribuirá para fortalecer ou enfraquecer os democratas diante dos republicanos na busca de votos na eleição de 2024.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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