Correio da Cidadania

Estados Unidos: o intricado equilíbrio político com a China

0
0
0
s2sdefault


Conquanto concentrados com o conflito militar do leste da Europa e com o recente do Oriente Médio, os Estados Unidos têm a atenção primordial direcionada à China, em função da multiplicidade de divergências políticas, econômicas, culturais afloradas há tempos.

Ao aproximar-se de Pequim em plena Guerra Fria, no início da década de 70, Washington não descortinaria a imagem de uma nação – oficialmente comunista - a ombrear-se com ela após cinquenta anos e transformar-se, por conseguinte, no seu desafiante mais sério no próximo quarto do século.

Naquela ocasião, Richard Nixon, bastante desgastado na política exterior pelos efeitos da Guerra do Vietnã, visitaria não apenas a China, mas a União Soviética meses depois. Com isso, a ideia de tentar abrandar a corrosão ao ter a iniciativa de encontrar-se com os dois governos mais vinculados ao vietnamita.

Com a primeira, a proposta de reconhecimento da presença na Organização das Nações Unidas (ONU) e de modo subsequente o direito de assento fixo no Conselho de Segurança em substituição à rival Formosa e com a segunda o entendimento a ser materializado no Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (em inglês, SALT) voltado a restringir o emprego de artefatos nucleares.

Nas vésperas do retorno, a comitiva presidencial receberia atenção especial, ao ser informada do envio ao território norte-americano de um casal de pandas de ano e meio de idade como símbolo da cooperação bilateral, após anos de tensão. Os animais faleceriam na década de 90 - https://nationalzoo.si.edu/animals/history-giant-pandas-zoo.

A renovação na política exterior contribuiria para a reeleição do dirigente republicano em novembro de 1972, ainda que em poucos meses o cabedal acumulado se dissipasse de forma acelerada até resultar na renúncia a fim de evitar a conclusão de processo de destituição (impeachment).

Hoje, o titular da Casa Branca não passa pelo mesmo apuro de seu remoto antecessor, embora as duas atuais confrontações oponham Washington a Pequim e sem dúvida a Moscou. Tal qual aquela época, a China encaminharia aos Estados Unidos pandas como desejo de cooperação.

De fato, o relacionamento entre as potências retesa-se, apesar do encontro em solo californiano entre Joe Biden, postulante a reeleger-se, e Xi Jinping, em terceiro mandato. Diferente da fase bipolar ou amero-soviética, os dois maiores países têm suas economias entrelaçadas de tal sorte que a execução de medidas alfandegárias severas afetaria no curto prazo seus cotidianos e estiraria mais a corda.

Adicionem-se à desinteligência duas questões conectadas com a afirmação de soberania: a primeira se refere ao mar da China Meridional, em decorrência da expectativa de exploração de recursos naturais por diversas nações como Filipinas, Malásia e Vietnã.

A segunda se liga ao destino de Formosa/Taiwan. Pequim a considera como um estado seu ao passo que Washington, país. Por um lado, argumenta-se a unificação do Vietnã do Sul e o do Norte em 1976. Nos últimos momentos da Guerra Fria, ocorreria uma dupla em 1990: a da Alemanha Ocidental e a Oriental e a do Iêmen do Sul e o do Norte.

Por outro, invoca-se a permanência das duas Coreias, defensoras de dois sistemas político-econômicos. A despeito do exemplo, a China continua a pressionar a ilha, ao executar manobras militares no estreito de Formosa, por exemplo, e colocar em xeque Formosa e, outrossim, Estados Unidos, em vista do pleito presidencial de 2024 de ambos.

Diante da provocação bélica, cabe à Casa Branca a desagradável tarefa de sustentar ao mesmo tempo cautela e brio, de modo que desestimule seu adversário, não provoque; não será encargo fácil ao mandatário democrata até porque seus opositores republicanos manterão a crítica, malgrado o tom adotado.

*Gostou do texto? Sim? Então entre na nossa Rede de Apoio e ajude a manter o Correio da Cidadania. Ou faça um PIX em qualquer valor para a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática; a chave é o CNPJ: 01435529000109. Sua contribuição é fundamental para a existência e independência do Correio.

*Siga o Correio nas redes sociais e inscreva-se nas newsletters dos aplicativos de mensagens: 
Facebook / Twitter / Youtube / Instagram / WhatsApp / Telegram  

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
0
0
0
s2sdefault