Correio da Cidadania

EUA: Trump na tortuosa trilha de Reagan

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Uma imagem bem próxima de Trump de perfil mostra seu rosto com sangue.
Getty Images

Depois do desempenho insatisfatório no debate presidencial de junho, Joe Biden encontra-se nas cordas por pressão de Donald Trump, controvertido adversário republicano e vítima recente de atentado à bala, e - pasmem - por compressão visível de integrantes da própria agremiação, preocupados com a perspectiva de campanha infrutífera de reeleição já na fase inicial.

A poucas semanas do pleito, apoiadores, muitos dos quais doadores expressivos e famosos como George Clooney, clamam de maneira pública sua substituição na difícil disputa - https://www.bbc.com/news/articles/cy68gxw32zno 

Biden favorece-se de modo momentâneo porque não há ainda consenso sobre qual nome seria o mais adequado para o enfrentamento, em qual momento o remanejamento deveria ocorrer e qual chapa deveria ser composta, caso a vice-presidente Kamala Harris fosse a postulante titular.

Metidos em maus lençóis eleitorais, os democratas angustiam-se a toda hora diante dos republicanos por vislumbrar a possibilidade de perder a corrida para oponente condenado pelo judiciário de Nova York não por causa política como ao tempo de Eugene Debs, sindicalista contrário ao alistamento de seus pares na I Guerra Mundial.

Biden não é o primeiro presidente a ter a saúde questionada nos meios de comunicação após embate televisivo pelo posto de maior importância da nação; em 1984, a preocupação dirigia-se a Ronald Reagan, também septuagenário - https://www.smithsonianmag.com/history/when-debate-flop-raised-concerns-ronald-reagan-fitness-run-reelection-180984691 

Naquela altura, a repercussão não foi tão ampla como a de hoje, graças ao impacto imediato do poder de divulgação das redes sociais. O desassossego com a situação de Reagan, no entanto, não obstaria a vitória do dirigente com relativa facilidade, haja vista a popularidade com a qual havia começado sua caminhada ao segundo mandato.

Ronald Reagan superaria Walter Mondale, ex-vice-presidente de Jimmy Carter, em quarenta nove dos cinquenta estados. O democrata ganharia apenas em Minnesota, por margem mínima, e no distrito de Washington.

Quatro décadas posteriores, Trump parecer inspirar-se nos passos de Reagan, ao invocar, mesmo que de forma insincera, aparente nacionalismo manifesto com duas características: como crítico da globalização, posiciona-se como protecionista e, assim, chama a atenção do operariado de segmentos industriais decadentes, incapazes de concorrer com a produção de países como Coreia, Japão e notadamente China.

Como defensor de valores norte-americanos observados como costumeiros, malgrado ele não agir na vida política sob sua influência, traz para si a boa vontade de setores religiosos, em essência a de denominações cristãs.

Objeto de ataque infecundo a tiros na Pensilvânia, como Reagan em março de 1981 em Washington, Trump pode tornar-se aos olhos do eleitorado mais tradicionalista o ‘escolhido’ do pleito de novembro. Resta a saber o preço a ser cobrado à população.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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