EUA: reviravoltas a todo tempo
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- Virgílio Arraes
- 30/07/2024
Enquanto a candidatura republicana aparentava ascender, em parte devido ao impacto oriundo do atentado fracassado de 13 de julho na Pensilvânia, a democrata debilitava-se a olhos vistos, com menções constantes à alteração da agremiação no tocante à indicação para concorrer à Casa Branca.
Chegavam os clamores sem reservas aos meios de comunicação até oficializar-se a desistência em 21 último do presidente Joe Biden. Encontravam-se seus correlegionários entre a cruz e a caldeirinha, uma vez que os sinais de fragilidade do mandatário não se interrompiam e espraiavam-se perante o eleitorado com repercussão negativa.
Como exemplo, o dirigente não conseguiu lembrar-se em entrevista televisiva do nome do general de exército Lloyd Austin, do Departamento de Defesa, titular de um dos cargos de maior relevância do governo federal.
Com o anúncio da abdicação como candidato, a designação seria a da sua sucessora natural na Casa Branca: a vice-presidente Kamala Harris. Com isso, os democratas lograram reverter até agora a expectativa desfavorável quanto à conservação da sigla à frente de Washington por mais um quatriênio.
Embora as primeiras manifestações tenham sido favoráveis à modificação, é possível surgir ao Partido Democrata outro desgaste em breve em magotes e com ele novas pressões em meio à intensa disputa eleitoral: a continuidade de Joe Biden no poder, dado que o estado de debilidade do governante tende a se estender.
A despeito de o dirigente manter-se quase recolhido desde o comunicado da renúncia, a oposição republicana deve explorar a questão, dada a dificuldade de distanciar-se nas pesquisas da situação, após o anúncio positivo de Harris.
Desta maneira, a substituição do mandatário sob justificativa, ainda que oficiosa, de saúde apontaria à sociedade ter permanecido o país sob condução temerária ao menos nos meses derradeiros, malgrado não depender apenas do presidente as tarefas administrativas.
Apesar de relativa descentralização, como demonstra a desenvoltura nos dois últimos decênios do Pentágono e da CIA em nome do antiterrorismo ao redor do globo, a decisão final sobre ataques letais ainda depende de autorização magna.
Além disso, há duas confrontações sem perspectiva de encerramento no curto prazo: uma no leste da Europa e a outra no Oriente Médio. Em ambas, um dos lados detém no seu arsenal ogivas atômicas. Portanto, a condução do gabinete presidencial, ao se envolver de modo acentuado nelas, tem de ser cautelosa e criteriosa.
Por conseguinte, a troca de candidatura, conquanto necessária, contribuiria para erodir a credibilidade da agremiação democrata, dado que teria ocultado da população ponto grave relativo à capacidade do mandatário.
Outrossim, suscitaria a preocupação de que o governante tem sido tutelado no processo decisório. Por extensão, haveria a curiosidade sobre quem teriam sido as pessoas responsáveis por isso e de que maneira elas poderiam ter-se beneficiado politicamente.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.