EUA: o conservadorismo reforça-se na última fase da eleição
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- Virgílio Arraes
- 04/09/2024
Ao final do século 20, segmentos outrora vinculados à socialdemocracia, quer na prática, quer na retórica, organizaram-se nas maiores economias do planeta com vistas a constituir caminho alternativo à democracia neoliberal então ascendente nas Américas e na Europa e ao comunismo ainda persistente na Ásia.
Seria a terceira via em torno da qual iriam circular nos Estados Unidos os democratas de Bill Clinton, na Grã-Bretanha os trabalhistas de Tony Blair e no Brasil os tucanos de Fernando Henrique Cardoso.
Embora o ideário a agregasse mais à esquerda na teoria, sua implementação, no entanto, a fixaria na direita. Com o transcorrer do tempo, a rubrica cairia quase no esquecimento popular, porque pouco se distanciaria do neoliberalismo em voga.
Apesar disso, a ultradireita costuma associar de maneira indevida as agremiações daquela esfera histórica ao campo progressista, sob a perspectiva de Estado de bem estar social como no período da Guerra Fria.
Com o revés de um dos lados naquela época, o da União Soviética, o desmonte da sociedade previdenciária se iniciaria sem rodeios na parte ocidental com o desvirtuamento da cidadania, ao se pregar que determinados direitos sociais seriam privilégios, por exemplo, e ao valorizar o consumo em excesso, malgrado o impacto no meio ambiente.
Em 2024, os Estados Unidos assistem à eleição da Casa Branca em ritmo cinematográfico, ao registrar em curto espaço o atentado fracassado ao candidato da oposição e a desistência do próprio presidente de participar dela.
Com o impacto do primeiro acontecimento, reiterava-se o favoritismo do postulante republicano, apesar de ser figura bem controversa; com o segundo, retorna-se, todavia, o bastão da liderança à representante democrata.
A disputa ainda se encontra bastante acirrada, embora não haja diferenças importantes entre as duas candidaturas em torno das questões sociais internas de maior importância à parcela mais desvalida da população.
A retórica terá, apesar disso, peso na definição da escolha do eleitorado na hora da votação, em especial o dos estados apelidados de pendulares – ora republicano, ora democrata. Nesse sentido, o impulso e a propagação nas redes sociais digitais serão decisivos porque podem contribuir para o comparecimento às urnas – lá, o voto não é obrigatório.
Preocupa, por conseguinte, a parceria política do aspirante republicano com o proprietário da plataforma X por já ter havido até fruto: o nome do vice, posicionado mais à direita que o próprio titular da chapa.
Se prolongada a aliança, ela poderia beneficiar a agremiação republicana nas próximas semanas quanto à disseminação em grande escala do fluxo de determinadas informações nos Estados Unidos. Caso eivadas de distorção, podem prejudicar de modo célere a candidatura da situação sem que haja tempo para reverter o impacto.
Assim, a militância democrata terá papel significativo com vistas a conter ocasionais ataques de comunicações manipuladas, de impacto tão forte na contemporaneidade como as investidas físicas do passado.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.