Estados Unidos: distinção quase ilusória na campanha
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- Virgílio Arraes
- 13/09/2024
Saul Loeb/AFP via Getty Images
Inicia-se setembro com os dois principais partidos no esforço de arrecadar se possível milhões todos os dias a fim de executar suas campanhas sem sobressaltos até novembro: com a substituição do presidente Joe Biden por Kamala Harris, a vice, a coleta democrata ascendeu de maneira inédita, ao atingir mais de 350 milhões de dólares no mês anterior, ao passo que a republicana, definida previamente com Donald Trump, mal se aproximou dos 150 milhões - https://edition.cnn.com/2024/09/06/politics/kamala-harris-august-fundraising/index.html
A soma expressiva reflete o otimismo da caminhada à reeleição democrata, ao apontar no horizonte a real possibilidade de vitória, dado que a contenção precedente havia sinalizado percepção inversa, isto é, a de derrota inevitável caso se persistisse em manter a indicação de Biden na busca do segundo mandato.
Por outro, a agora angustiada oposição procura contrapor-se, ao afirmar que a quantia recorde teria sido fruto da visibilidade da recente convenção partidária, ou seja, tenderia a reduzir-se, portanto, nas próximas semanas e não ser constante ou crescente.
Sem financiamento público nas corridas eleitorais, as organizações norte-americanas esmeram-se em atrair a atenção da sociedade, com o propósito de subsidiar suas atividades cotidianas a cada biênio. Assim, parcela das doações situa-se na casa das dezenas ou das centenas de dólares por cidadãos de classe média.
Embora não sejam elas significativas no final, auxiliam a identificar o entusiasmo da adesão de segmentos sociais ou de categorias profissionais como a da educação ou a da saúde ou mesmo a de estados em favor de uma ou de outro postulante e, deste modo, ajudar a direcionar o andamento das campanhas.
Entrementes, são as generosas contribuições de milionários o fator de viabilidade das candidaturas, ao se destinar, por exemplo, quantias para inúmeras mensagens de rádio, televisão, publicações impressas e redes sociais e também para a contratação de funcionários como pesquisadores, analistas, cabos eleitorais etc.
Nos últimos tempos, não é encargo fácil conseguir diferenciar de forma aprofundada os programas das duas agremiações em globo. O aderir de republicanos a Kamala Harris, apesar de justificada como contraponto ao inegável autoritarismo de Donald Trump, demonstra que o ideário democrata não ocasiona restrição substantiva da concorrência.
Por isso, compreende-se a proximidade dos dois nas pesquisas de opinião, dado o desembaraço de oscilação do eleitorado. Diante da conjuntura embaçada, a veiculação dos anúncios concentra-se em distinguir seus representantes do ponto de vista biográfico.
Aos olhos do público, os reclames à Casa Branca podem assemelhar-se à publicidade de filmes ou de novelas com a apresentação da difícil missão do herói ou da heroína em combate sem tréguas às adversidades nos Estados Unidos: múltiplas imagens em pouco tempo com narração entoada de maneira dramática ou grandiosa.
Por derradeiro, os democratas levam vantagem no histórico biográfico quando se compara o perfil de Harris, ex-procuradora geral da Califórnia, com o de Trump, já sentenciado e na expectativa da definição da pena cuja aplicação deverá vir depois da votação de novembro.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.