Estados Unidos: extravagância de Trump em favor de Harris
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- Virgílio Arraes
- 19/09/2024
Até o momento, houve dois debates presidenciais transmitidos por redes de alcance planetário: um foi televisionado pela CNN em 27 de junho e o outro em 10 de setembro pela ABC. No primeiro, o desempenho do candidato democrata se mostrou muito aquém do necessário ou mesmo do esperado por sua equipe.
A decepção com a desenvoltura de Joe Biden em frente das telas de dezenas de milhões de assinantes ao redor do globo influenciaria seus simpatizantes à campanha incomum de sua substituição imediata na agremiação com o propósito de sustentar as chances de vitória em novembro na concorrência à Casa Branca.
Em polvorosa, possíveis doadores, entre os quais artistas famosos de Hollywood ou acionistas majoritários de companhias de alta tecnologia, iriam pressionar a alteração da titularidade, ao evocar a possibilidade de interromper as contribuições.
Malgrado a resistência inicial do próprio presidente, algo afinal compreensível, a solicitação de modificação da chapa adquiriria de maneira célere apoio amplo nas fileiras partidárias e repercutiria bem no restante do eleitorado, de modo que o dirigente teria de descerrar as cortinas a sua aspiração de novo mandato.
Em seu lugar, ingressaria no proscênio da disputa a vice-presidente Kamala Harris. No segundo embate televisivo, a frustração ocorreria desta vez no lado da oposição, a despeito das expectativas otimistas entre seus potenciais votantes nas vésperas da transmissão: Donald Trump, representante republicano, fracassaria em contrapor-se a sua oponente durante quase duas horas.
Entre os episódios desfavoráveis, ele chamaria a atenção por afirmações de tom caricato como a da alimentação por imigrantes de animais domésticos como cães e gatos ou a da chegada de ‘milhões’ de pessoas ao território norte-americano provindos do sistema manicomial ou carcerário de seus países.
O acontecimento mais burlesco foi o de referir-se a sua adversária como marxista, posicionamento econômico ou político inexistente sem dúvida entre a vasta maioria dos integrantes do Partido Democrata, embora disseminado de forma costumeira por segmentos reacionários pouco afeitos ao estudo, mesmo superficial, da história - https://abcnews.go.com/Politics/harris-trump-presidential-debate-transcript/story?id=113560542.
Na arena internacional, o aspecto de divergência entre ambos foi o da conduta dos Estados Unidos diante da confrontação entre Rússia e Ucrânia. Democratas, desde o alvorecer da invasão pelo Kremlin em fevereiro de 2022, posicionam-se a favor de Mariyinsky, ao passo que republicanos se conservam bastante céticos quanto à eficácia do auxílio governamental, em especial o relativo à parte financeira situada na faixa de dezenas de bilhões de dólares - https://www.state.gov/u-s-security-cooperation-with-ukraine/
Após o evento, pesquisas indicam a liderança, ainda que pequena, de Harris sob Trump em estados denominados de pendulares onde o número de delegados é razoável como o da Pensilvânia e o de Michigan. Diferentemente do Brasil, a disputa lá para a presidência é indireta, de modo que tem êxito a candidatura com mais de 270 votos do restrito colégio eleitoral. Caso continue com as menções esdrúxulas ao público sobre a atual administração, ele deve preparar-se para ser rejeitado de novo pela sociedade norte-americana.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.