Correio da Cidadania

EUA: a movimentação das inverdades na campanha presidencial

0
0
0
s2sdefault

Às vésperas de debate, nova pesquisa mostra que Trump e Kamala continuam  empatados – Mundo – CartaCapital
Brasil e Estados Unidos vivem períodos eleitorais importantes, conquanto em graus distintos de ocupação: na parte sul do continente, decide-se em outubro a escolha da titularidade do primeiro cargo do Executivo, a prefeitura, ao passo que na norte o último, ou seja, a presidência da República.

Em comum nas competições, a divulgação deturpada ou falsa de informações sobre candidaturas, ao até abranger de maneira indevida questões particulares e por conseguinte envolvê-las em lamaçal de difícil filtro aos olhos do eleitorado em função da quantidade de circulação de dados nos meios de comunicação.

Em solo norte-americano, como as propostas entre os dois postulantes se diferenciam de forma geral na intensidade da aplicação do ideário político-econômico, não no conteúdo, a corrida, com o propósito de granjear a maior atenção da sociedade, se estende sem hesitação ao perfil privado e mesmo familiar.

Isso não é sinal recente da estrutura estadunidense, mas sim costume advindo do pleito de 1800, quando houve tensa disputa entre Jefferson e Adams. Naquela época, os concorrentes representariam de modo explícito a primeira grande divergência de visão de mundo entre a elite do recém-nascido país.

De um lado, a concepção federalista em torno da qual se inscreviam personalidades como John Adams, Alexander Hamilton e George Washington em prol, apesar do nome, de governo central ou concentrado;

Do outro, a republicana-democrática ao redor da qual orbitavam Thomas Jefferson, James Monroe e James Madison em favor de administração descentralizada, com ênfase assim nos estados (províncias) e nos municípios.

Dissensão na agremiação também ocorria como no exemplo no qual Hamilton rejeitava Adams, a ponto de publicar o libelo O caráter e a conduta pública de John Adams, no qual realçaria qualidades negativas do candidato de seu próprio grupo. Com isso, os adversários engrossariam o caldo de acusações ou de inverdades, ao lançar sobre o aspirante suspeitas relacionadas com a conduta pessoal – https://quod.lib.umich.edu/cgi/t/text/text-idx?c=evans;cc=evans;rgn=main;view=text;idno=N28182.0001.001 

Malgrado vencedor ao fim e ao cabo, Jefferson também seria objeto de denúncias durante a campanha. Atribuir-se-ia a ele enriquecimento por emprego em demasia de ardis, ao enganar até uma viúva na aquisição de propriedade! Na esfera moral, divulgar-se-ia ser ele antirreligioso.

Dois séculos mais tarde, a maledicência, em especial nas fileiras republicanas, continua, ao evocar de modo deturpado tópicos relevantes à população como os da imigração, dos direitos civis e da assistência previdenciária.

Os burburinhos circulam com velocidade entre a população através das variadas redes sociais com dezenas de milhões de inscrições e desencadeiam muita confusão e só depois indignação, embora não na medida correspondente ao dano de início provocado.

Nem sempre há o tempo adequado para desvendar rumores inverídicos. Destarte, parcela do eleitorado, ao invés de votar com a perspectiva de esperança, comporta-se de maneira contrária, ao se manifestar com medo nas urnas e ratificar, ainda que de forma involuntária, a reação a ilusões, ou melhor, a mentiras.

*Gostou do texto? Sim? Então entre na nossa Rede de Apoio e ajude a manter o Correio da Cidadania. Ou faça um PIX em qualquer valor para a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática; a chave é o CNPJ: 01435529000109. Sua contribuição é fundamental para a existência e independência do Correio.

*Siga o Correio nas redes sociais e inscreva-se nas newsletters dos aplicativos de mensagens: 
Facebook / Twitter / Youtube / Instagram / WhatsApp / Telegram  

 

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
0
0
0
s2sdefault