Correio da Cidadania

PSOL: vale a pena se adaptar à ordem?

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Eduardo Paes e Marcelo Freixo em campanha municipal / Divulgação 

O PSOL entrou de vez no balaio do "todos são a mesma coisa" e perde protagonismo, que vinha crescente, até ser colado na aba do chapéu do neoPT, por sua atual maioria na direção?

Sim, vale a dúvida e a discussão de como reverter a tendência declinante. Porque, a despeito da ida de Boulos para o segundo turno, esse salto se dá por um beiço de pulga na frente de Marçal. E reduzindo o que já havia sido conquistado com Erundina na vice em 2020. Com um detalhe importante: naquela ocasião, com campanha de esquerda, PT disputando via Jilmar Tato e, por baixo, R$ 50 milhões a menos de recursos financeiros.

Enquanto isso, na única prefeitura de capital, Belém, em que o partido havia saído vitorioso, Edmilson Rodrigues é defenestrado do segundo turno de forma acachapante. Destino previsível para quem faz governo nos limites do que a direita fazia e até repele greve de professores.

Ouso afirmar que essa regressão de representatividade política tem várias razões externas. Mas, principalmente, vejo nas próprias opções tomadas pela nova maioria na direção muito da responsabilidade sobre isso.

Responsabilidades que se afirmam a partir da ruptura com a tradição de candidatura própria no primeiro turno, na disputa Lula x Inominável, em 2022. O partido entrou por uma lógica de despolitização de sua identidade própria - a de alternativa rupturista pela esquerda, com a tática fincada na luta anticapitalista - para mergulhar num oportunismo eleitoralista suicida.

Começou a descida de uma ladeira que nos leva a uma perspectiva nefasta para o conjunto da esquerda: se não houver mudança política imediata e radical imediatamente, o PSOL pode se transformar numa nova edição de PC do B, que a cada disputa eleitoral vê sua dimensão se esfarelar por ser impossível identificar sua real ideologia.

Tarcísio, no Rio, é exemplo disso, assim como a redução da bancada de eleitos - de 7 para 4. Tarcísio Motta fez uma excelente campanha. Desempenhou-se de forma irrepreensível nos debates, e só por milagre não foi apagado pela campanha ignóbil do voto útil em Eduardo Paes. Sim, como se houvesse diferença politicamente estruturada entre ele e a extrema direita, a não ser pela forma "malandra" de aplicar políticas privatistas e antissociais, eleitores naturais da esquerda se viram arrastados a "reprimir" o perigo de um inexpressivo Ramagem no segundo turno.

Tarcísio pagou o preço da estupidez do setor hegemônico da direção regional, na linha da direção nacional, de apagar, em 2022, pela primeira vez desde a sua fundação, a legenda dos debates televisivos, por conta de uma ignóbil submissão a candidaturas de Lula e Freixo já no primeiro turno. Sumimos do mapa, com redução do voto de legenda.

Táticas que levaram o PSOL a desprezar o protagonismo anterior, crescente, sem nenhum peso concreto nos resultados eleitorais. Freixo perdeu na esteira de uma deserção desqualificante e nada pode ser creditado ao apoio do PSOL nos votos de Lula no primeiro turno. Pelo contrário. Tivéssemos disputado o primeiro turno com candidatura própria, teríamos muito mais peso na busca de apoio para que a derrota do Inominável no segundo se desse de forma menos desconfortável.

Enfim, só espero que se abra, após o segundo turno, discussão interna quanto a uma antecipação do próximo Congresso partidário. E que novas e importantes lideranças da Esquerda Combativa, como Glauber Braga, passem a ocupar espaço bem maior na condução dos destinos do Partido.

Luta que Segue! pois "ralar no áspero é nossa sina", com a campanha #Glauber Fica!

Milton Leite é jornalista, ex-deputado federal pelo PT (1994-2002) e fundador do PSOL.

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